A primeira vez que ela chamou, ele estava na cafeteria que costumava se refugiar. Aquela tarde tinha começado infinitamente vazia, ainda que o vazio e o infinito pareçam antagônicos. Igualmente a manhã tinha sido das mais rotineiras. Saiu do escritório rumo à casa com o tédio colado no corpo. Sentia falta de novos planos, expectativas, algo criativo para dedicar-se. Estava cansado das tardes quentes do último verão fazendo manutenção no jardim e na casa, embora essa atividade ajudava a preencher alguns dias menos desastrosos, assim como o trabalho no escritório e a companhia dos colegas davam certo suporte a sua rotina. Depois do almoço, sempre às três da tarde, ele ficou uma hora ou mais sentado em frente ao computador, relendo as notícias da manhã meio sonolento. Sua mulher seguia o hábito de assistir todas as novelas da tarde na sala da televisão no andar de cima da casa, coisa que o enfadava já havia algum tempo. A desatenção, a indiferença e a frieza foram corroendo o relacionam
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