— Me conta alguma história, algo bom. ..— J. me pediu por escrito recostado no sofá da sala, num dia de costumeira letargia provocada pela sua condição de saúde, ainda assim com relativo conforto físico. Enquanto sua comida—um líquido amarelo e espesso— saía de uma garrafinha de plástico adaptada a um cabideiro da casa e fluía por um tubo que ia direto ao seu estômago, sentei bem perto dele. Com um tom de voz um pouco mais alto e compassado para que ele me ouvisse bem, eu comecei. Contei a história de um casal cujo encontro era tido como totalmente impossível. Porém, à medida que foram se conhecendo, a princípio por um aplicativo de idiomas depois por mensagens instantâneas e correios eletrônicos descobriram que eram como poucos para se entender e que valeria a pena um projeto de acercamento. O segredo desse entendimento era dizer tudo e transparecer. Nada a esconder, dourar, disfarçar ou dissimular fosse o que fosse: o clima chuvoso da terra dele, o inverno rigoroso europeu, o dinhe
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