Foto: Arquivo Pessoal Somos feitos de saudades, algumas são indolores, outras cravam feridas. Tenho doces saudades do meu bairro, da casa e das brincadeiras da infância. Tenho saudade de uma boneca, de um coelho de pelúcia, de comer cocada ainda quente—uma vizinha fazia para vender— da escola primária, dos cadernos adornados com florezinhas de decalque, de ver desenho animado numa televisão de tubo, de meus pais jovens e ativos e das minhas avós. Estas saudades aquecem e confortam a alma. Porém, há saudades dolorosas. Elas diferem umas das outras devido à relação entre espaço e tempo. A infância dura pouco, menos de doze anos, e está tão distante da idade madura que, exceto quando há grandes traumas ou rupturas, tudo fica lá atrás naquela atmosfera quase que de sonho e fantasia. As saudades mais intensas estão relacionadas a dores de perdas. E estas doem muito mais na idade madura, porque mesmo que muitas derivam de circunstâncias ou acontecimentos alheios às nossas ações, outras sã
Contos, crônicas, viagens, sentimentos, escrita criativa para inventar e curar a vida.