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Mostrando postagens de janeiro, 2019

A maior revelação é o silêncio

O silêncio invariavelmente é saudável, instrutivo, reflexivo, prudente, calmante, paliativo nas dores e nas tentativas de compreensão da realidade. Mas existe um silêncio que ensurdece, que machuca os ouvidos alheios e que revela um estardalhaço de verdades muito mais do que um discurso articulado e coerente. 2019 começa com esse silêncio,  um retumbante e ensurdecedor mutismo coletivo. É o silêncio daqueles que dizem não ter nada com ISSO, pois o mundo a sua volta é somente um habitat que não exige comprometimento e interação. É o silêncio dos vaidosos que só percebem a si mesmos como criaturas e suas próprias conquistas como única fonte de contentamento e forma de vida. É o silêncio dos cruéis, perversos e cobiçosos que colocam nos ombros do outro a culpa de suas próprias fragilidades ou se valem das fragilidades do outro para sacar-lhes o pouco que lhes resta acumulando assim fortunas privadas oriundas de patrimônio público. É o silêncio dos rudes, dos ignorantes, dos equivocados, d

O avanço da ignorância e o elefante na sala

Imagem : https://www.independa.com.br/livro/paulocamposdias/ Informe Semanal é um programa da Televisão Espanhola TVE1 onde pudemos assistir no último sábado, dia 05 de janeiro uma reportagem sobre a posse do novo Presidente do Brasil Jair Bolsonaro. Com o título "Giro Extremo", a reportagem inicia dentro de um ônibus acompanhando um grupo de apoiadores do presidente eleito em caravana de São Paulo a Brasília para o dia da posse. Segundo o repórter, "o clima é de exaltação nacionalista com matizes religiosos". Vestidos com camisetas verde-amarelas, muitos iam enrolados na bandeira do Brasil,  cantando hinos de campanha- "Deus salve a Pátria Brasileira"- e fazendo o característico sinal de arma na mão que se popularizou na campanha do então candidato Bolsonaro. Em outro momento, um casal gay é entrevistado e falam sobre seus temores quanto à sua condição que é mal vista pelo governo eleito. Contam que se casaram antes da posse e que mesmo vivendo em um bair

Combarro, um (en)canto do mundo

Morei por sete anos num pequeno povoado chamado Combarro. Está situado no litoral da Província de Pontevedra, Comunidade de Galícia, Espanha. S egundo informativos turísticos, ele f igura entre os povoados mais bonitos do país. Era uma povoação independente até início do século XX, depois foi anexado ao município vizinho de Poio e considerado sítio histórico desde 1972.  Combarro abriga pouco mais de dois mil habitantes, tem fortes características marinheiras, é banhado pelo Oceano Atlântico e fica às margens de um típico acidente geográfico da região chamado "ria".  Uma ria é semelhante a uma baía ou uma enseada onde o mar adentra um litoral bastante recortado onde, invariavelmente encontra a foz de um rio. Uma ria ostenta uma infinidade de minúsculas praias de mar calmo, quase sem ondas e águas pouco profundas. Na Galícia elas formam as chamadas Rias Baixas.  Os peregrinos que fazem o Caminho de Santiago pela rota portuguesa passam há menos de cinco quilômetros de Combarro,

Nós, o lixo marxista por Vladimir Safatle

Folha de São Paulo / 05 de janeiro de 2019 Vladimir Safatle Nós, o lixo marxista Tomou posse o primeiro governo eleito de extrema-direita do Brasil. Com ele, não há negociação alguma possível. E nem ele procura alguma forma de negociação com aqueles que não comungam seus credos, que não louvam seus torturadores e que não acham que “é duro ser patrão no Brasil”. Não há razão alguma para se enganar e acreditar em certa normalidade: a lógica que irá imperar daqui para frente é a da guerra. Pois isto não é um governo, isto é um ataque.  Já o discurso do sr. Jair Messias foi claro. Questões econômicas e sociais estiveram em segundo plano enquanto as duas palavras mais citadas eram “deus” e “ideologia”. Deus estava lá, ao que parece, para nos livrar da “crise moral” em que a república brasileira se encontra. Isto, diga-se de passagem, há de se conceder ao sr. Jair Messias: vivemos mesmo uma crise moral profunda. Ela está instalada no cerne do governo brasileiro. Pois como justificar um gover