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Mostrando postagens de maio, 2023

Presentes e castigos

                                                          Foto: O Grove, Galícia, Arquivo Pessoal   Sabem quando chega a hora de inventariar o quanto de dádivas ou punições temos acumulado? É quando a expectativa de futuro se reduz diante do passado.  Os  ontens  já são bem maiores que os  amanhãs  e o  hoje  vai seguindo cheio de  agoras  até o instante final. Talvez seja por isso que os velhos são silenciosos. O balanço exige reflexão e recolhimento. Talvez por isso existiam as cadeiras, de balançar e pensar. Segundo a natureza humana é impossível sermos perfeitos, tampouco erramos sempre.  Para isso está a própria vida, dando lições diárias e ainda assim continuaremos únicos em nosso conjunto de imperfeições, enquanto buscamos conhecimento, lugares, coisas, filhos, bem-estar, amor, sonhos e encantamento. Tanta coisa, não necessariamente nesta ordem. E cada um de nós com sua própria história, entremeada com a de outros, vamos separando alegrias e tristezas, mágoas e deleites. Assim s

Ardente Paciência

  Isla Negra, Chile Baseado na obra de  Antonio Skármeta , Ardente Paciência conta a história de Mario, jovem pescador inconformado com seu destino previsível e legado do pai. Ele resolve buscar outra atividade e candidata-se à vaga de carteiro na pequena localidade de  Ilha Negra,  onde vive também o famoso poeta  Pablo Neruda . É início da década de 70 e o cenário de fundo mostra a luta do povo trabalhador e o processo eleitoral em vigor no país. Mario apaixona-se à primeira vista pela filha da dona do pequeno restaurante local, mas nunca sabe o que dizer para confessar seus sentimentos. Neruda é o único morador que recebe cartas regularmente e os encontros cotidianos aproximam o escritor do jovem carteiro que passa a ler seus poemas e pede conselhos em como atuar para chamar a atenção de sua amada.   O título segue o mesmo do livro do escritor chileno, portanto não é refilmagem   do famoso ganhador do Oscar de melhor trilha sonora de 1994, O Carteiro e o Poeta—  Il Postino— uma

La felicidad en tierras lluviosas

  Café Moderno- Interior Yo solía esperar a J. en la cafetería Capri en la Plaza San José, frente al emblemático edificio del Café Moderno al final de la calle Oliva. Quedábamos a menudo alrededor del mediodía, durante el descanso de mis clases de español, dos veces a la semana, y de su trabajo en una oficina cercana. Entre noviembre y abril, siempre llueve mucho en Pontevedra. No son tormentas con rayos y vientos. De hecho, raras veces he visto caer rayos allí. Es una lluvia muy peculiar.   Borrascas tras borrascas llegan del mar y duran días, a veces semanas, durante las cuales solo se ve una nebulosidad blanca o gris en el cielo, ocultando la luz del sol, afligiendo a los habitantes locales y aún más a las personas de los trópicos como yo. Recuerdo esos nuestros días, casi siempre bajo la lluvia. En la mayoría de las ocasiones, yo llegaba primero y buscaba una de las mesas junto al cristal, admirando las estatuas de bronce de los cuatro intelectuales gallegos y el violinista en e

Sendo feliz na terra da chuva

  Foto: visit-pontevedra.com Eu costumava esperar J. na cafeteria Capri na Praça San Jose em frente ao emblemático prédio do Café Moderno no finzinho da rua Oliva. Geralmente o encontro era em torno do meio-dia no intervalo de minhas aulas de espanhol—duas vezes por semana— e do trabalho dele num edifício de escritórios perto dali. Entre novembro e abril sempre chovia e ainda chove muito em Pontevedra. Não em forma de tormentas, precedidas de raios e ventania. Aliás quase nem cai raios por lá. É uma chuva muito peculiar. Chegam do mar borrascas atrás de borrascas e levam dias, às vezes semanas que só se vê uma nebulosidade em tons de branco ou acinzentado pairando no céu, escondendo a luz do sol, afligindo os moradores nativos e mais ainda as gentes dos trópicos como eu.        Lembro, então desses nossos dias, quase sempre num cenário de chuva. Na maioria das vezes eu chegava primeiro e procurava uma das mesas rente à vidraça e ficava admirando as estátuas em bronze dos quatro int

A dor vivente

Imagem: Martyn Cook por Pixabay Há uma dor insuperável, talvez não impossível, mas difícil de transformá-la em passado. O passado não passa assim irrefletidamente, mesmo que a vida siga sem dar atenção aos dissabores individuais. Há períodos de grande calmaria e florescimento, mas em outros a vida resolve retorcer, arrasar e desmantelar. E aí quando nos damos conta absolutamente tudo é passado. As estações vão e vêm, as pessoas cumprem anos, as crianças crescem, os adultos entram na meia-idade, os de meia-idade na velhice e a rotina toma conta de todos. A busca por sobrevivência despende nosso tempo. Às vezes até dá para esquecer aquela ferida aberta através de encontros divertidos, almoços de domingo, noites de amigas, um show de música, um filme na TV, um livro que absorve, uma pequena viagem, um telefonema de alguém querido, convites generosos de parte de quem se importa ou uma tênue esperança de estarmos perdoados de culpas assumidas.  Muitos dizem com boa vontade:— Basta de estar