Pular para o conteúdo principal

Portalegre, Almuñecar e Torremolinos : as surpresas de uma viagem à Andaluzia



Almuñecar

Em junho de 2016, primavera na Europa, fizemos uma viagem de carro à Andaluzia, uma das 17 comunidades autônomas da Espanha. Era um roteiro de uns dez dias, planejado com antecedência e incluía alguns dos lugares mais emblemáticos da chamada Costa do Sol. Além do esperado deslumbramento com a costa do Mar Mediterrâneo aconteceu que tivemos outras boas surpresas pelo caminho e que não estavam no roteiro.

Saindo de Pontevedra em uma manhã, entramos pelo norte de Portugal descendo até Leiria para a primeira pausa. Depois de alguns quilômetros  nos deparamos com placas sinalizando a proximidade de um lugar chamado Portalegre. É um pequeno município da região do Alentejo em Portugal que data do século XIII. Minha curiosidade maior era comprovar o que a quase homônima de minha cidade de Porto Alegre no Brasil teriam em comum. Realmente, só o nome como era esperado, pois a pequena freguesia de Portalegre é um encantador conjunto de ruazinhas estreitas pavimentadas com pedras irregulares, prédios antigos, grandes portais, igrejas, castelinhos, miradores, enfim um aglomerado de casarios que convidam a um passeio ou a sentar numa cafeteria olhando o movimento da rua, já nessa época com muitos turistas. É um lugar com um aspecto tranquilíssimo e fora do tempo como muitas outras cidadezinhas do norte de Portugal.
Portalegre

Saindo de Portalegre, nosso próximo destino era pernoitar em Mérida, já na região da Comunidade de Extremadura, entrando  na Espanha de novo. Em pleno começo de junho, o calor já chegava a 30 graus no centro de Mérida. À tardinha fizemos um passeio por um centro movimentado, alegre, ruidoso, cheio de crianças e quase todo com ruas e alamedas em zonas sem circulação de carros. Mérida é patrimônio da humanidade e tem como seu monumento mais emblemático o Anfiteatro e Teatro Romano.

O segundo dia era de acordar cedo e seguir viagem até Sevilha, já na região andaluza.
Sevilha já estava quente e abafada pela manhã antes da hora do almoço.Tínhamos anotado um par de lugares para ver, pois o tempo ali era curto.Vimos a Torre del Oro, La Giralda, a catedral, as carrocinhas puxadas por cavalos fazendo passeios turísticos, as bailarinas andaluzas e suas performances pelas ruas.Tenho na memória o colorido, a música da cidade, o calor e uma turba de turistas asiáticos. Nosso próximo destino era Granada e ali pernoitaríamos.

Granada estava bastante quente também. Fizemos check-in no hotel e já soubemos com o funcionário que não seria possível visitar a Alhambra, o ponto mais emblemático da cidade. As entradas para aquele dia estavam esgotadas e nos deu pena não ter tido a lembrança de tê-las comprado com antecedência. Assim mesmo demos uma passada rápida por fora do imenso complexo arquitetônico e ajardinados do tempo da ocupação muçulmana. É um passeio digno de quase um dia todo. Ficou para outra viagem. Mais tarde fomos ao centro da cidade e estava um calor escaldante. Para minha surpresa, a rua principal do centro tinha um toldo de lona marrom protegendo do sol e calor. Granada em pleno verão pode fazer mais de 40 graus. Aquele dia já ultrapassava os 35 º C.
Granada
Frente à Alhambra
No outro dia saímos cedo de Granada rumo ao nosso ponto de parada na Andaluzia. Tínhamos reservado um apart-hotel em Benalmádena, região de Málaga, uma simpática praia do Mediterrâneo e dali poderíamos passear todos os dias para os outros destinos que faziam parte do roteiro e que distavam poucos quilômetros. Antes de chegar a Benalmádena paramos para almoçar na segunda surpresa da viagem, Almuñecar.

Almuñecar é uma praia encravada numas encostas rochosas, donde se avista na chegada vista de cima, uma cidade toda branca, parecendo uma imagem das ilhas gregas que só conheço de fotos. A praia é uma lindíssima paisagem que lembra uma visão extra-terrestre, porque a areia é grossa e escura, quase negra e de longe em longe vemos rochedos escuros onde o mar quebra tranquilo.Tem um longo e impecável passeio marítimo e aqui não posso  deixar de registrar a maravilhosa sopa de marisco que degustamos num restaurante local.
Almuñecar

Deixando Almuñecar depois do almoço  era já tempo de irmos rumo à  Benalmádena onde tínhamos a reserva de hotel. Benalmádena é uma praia com uma paisagem muito peculiar. É quase  toda construída numa encosta  e para ir à praia é preciso descer ladeiras e, claro, para voltar há que subir. Assim podemos concluir, em um primeiro momento que as pessoas que veraneiam por lá, são muito preparadas fisicamente para esse exercício diário de descer e subir. Depois deduzi que nem sempre é assim, porque percebemos que a maioria das casas e condomínios têm sua boa piscina o que facilita duas coisas, evita o baixar e subir à praia e o refresco com uma água bem mais tépida que a do mar. O Mediterrâneo é de um azul espetacular, muito calmo, mas muito frio, embora esse frio que eu relato seja relativo.Talvez para o povo nórdico esse mesmo mar lhes pareça quente. Meu parâmetro de mar próprio para banho é Garopaba, Torres ou Porto Seguro no Brasil. 

Nosso apartamento dispunha de cozinha, então fazíamos nosso próprio café da manhã ou jantar se não nos apetecia comer fora. O hotel era um prédio de dois andares em forma de círculo, com sacadas que davam para um pátio interno onde estava a piscina que nem tivemos muito tempo de aproveitar, porque tínhamos muito o que ver. A cidade tem um passeio marítimo muito bonito, agitado, cheio de turistas que em sua maioria, pelo aspecto físico, muito louros e com a pele vermelha do sol deduzia-se procedência alemã ou nórdica. Pela rua se escuta falar inglês ou alemão e os cardápios dos restaurantes estão na língua local, o espanhol  e também em inglês.

Depois de instalados no hotel tínhamos ainda uns quatro dias para aproveitar as belezas  da costa mediterrânea em passeios curtos tipo bate-volta à Málaga, Marbella, Fuengirola, Puerto Banús e Torremolinos.

Torremolinos  estava no nosso roteiro, porque tinha e tem um significado muito especial  por ser uma referência de minha juventude. Aos vinte e poucos anos li pela primeira vez "Os Rebeldes"( The Drifters ) de James Michener, um romance de aventura ambientado em finais da década de 60, começo de 70, no auge do Movimento Hippie, do culto às drogas, do amor livre, das manifestações contra a guerra no Vietnam, contra os colonialismos, a favor das liberdades individuais, de gênero e de igualdade racial. 

Torremolinos foi o primeiro plano de fundo do romance para onde convergiram e interagiram seis jovens de nacionalidades diferentes em um cenário e enredo que me fizeram ler o livro mais de uma vez, tal o clima de aventura, viagens, experiências e a profundidade de cada personagem. Obviamente, a Torremolinos de hoje não é mais a do livro e por óbvio não encontrei o Bar Álamo. Mas adorei estar ali e como era ao lado de Benalmádena, ficou como nosso caminho de casa e à noite passeamos muito pelo seu longo passeio marítimo. Foi ali numa dessas  noites que degustamos uma ótima paella. 

Torremolinos
Torremolinos
As praias da Costa do Sol  assemelham-se entre si por dispor de guarda-sóis de palha e espreguiçadeiras colocadas ordenadamente em fileiras, onde se aluga por dia ou por hora. Em Torremolinos, Benalmádena e Marbella não era diferente.Tudo muito ordenado, sem vendedores ambulantes, sem música alta, praia limpíssima, enfim sem o rebuliço comum das praias brasileiras.


Nestes dias visitamos também Málaga, Marbella, Fuengirola e Puerto Banús.

Puerto Banús é um lugar pequeno que me chamou atenção pela ostentação. É um destino de ricaços, principalmente chefes árabes e celebridades internacionais. O porto marítimo é um conjunto de impressionantes iates atracados,  lojas de grifes conhecidas e caras espanholas, francesas, inglesas e carros caríssimos nos estacionamentos. Os restaurantes e cafeterias tem o cardápio escrito em inglês e árabe. 

Em Málaga vale a visita ao museu de Picasso e um café pelas ruas do centro histórico lembrando que ali nasceu e vive Antonio Banderas.

Marbella é um primor de cidade com suas ruazinhas cheias de vasinhos de flores coloridas e Fuengirola é semelhante a todas às outras no movimento de turistas, na organização do passeio marítimo e no colorido dos edifícios.
Depois de três dias em  Benalmádena e arredores, saímos uma manhã rumo à Córdoba, já começando a fazer o caminho de volta.

Ficamos impressionados com a visita à mesquita. Uma grande edificação que abriga duas religiões fortes na história da Espanha, o Catolicismo e o Islamismo. Assim como a Alhambra de Granada, a Mesquita de Córdoba também é patrimônio da humanidade. Começou a ser construída como mesquita no ano 785, mas a partir da reconquista dos cristãos no século XI e a expulsão muçulmana, tornou-se catedral católica. Verdadeiramente impressionante a arquitetura desse prédio emblemático. Qualquer narrativa será pouco para detalhar tanta beleza, antiguidade e riqueza de detalhes. O almoço em Córdoba foi muito perto da Mesquita em um pequeno restaurante que servia comida tipo buffet, algo bastante inédito por aqui onde se costuma servir à la carte e menu do dia. 

Chegamos à Cáceres no final da tarde, bastante cansados da estrada em um dia igual de quente. Saímos um pouco para conhecer a cidade, mas o calor não ajudava. O sol era escaldante e depois de comer algo, voltamos logo ao hotel para descansar e sair cedo no outro dia e voltar à Galícia. Esse roteiro foi de dez dias, uns dois mil quilômetros percorridos, oito cidades, três hotéis, muita caminhada, muitas fotos, com pouca bagagem, pouco dinheiro, poucas compras mas com muito aprendizado e vontade de voltar.


Benalmádena
Málaga
Marbella
Mesquita de Córdoba
Museu Picasso
Sevilha











Comentários

  1. Certifico, assino e dou fe que o relato e real.

    ResponderExcluir
  2. Já ouvira falar na região da Andaluzia na época da universidade, pois tinha colegas que faziam língua espanhola, enquanto eu fazia francês. Sempre comentavam ser uma região belíssima, onde concentravam-se cidades importantes e talvez as mais bonitas da Espanha, como Sevilha, Granada, Córdoba, Málaga...
    Agora lendo tua narrativa sobre a viagem àquela região, Andaluzia ficou tão mais próxima, sobretudo porque remete a lembranças de um tempo marcante e fugaz, quando estudante do curso de Letras - cheia de sonhos, expectativas, projetos culturais, viagens de estudo...
    Sinto-me encantada com cada cidade que tão bem retratas e a forma como as apresenta, tornando-se vivas e reais e já posso imaginar suas belezas e riquezas culturais.
    No percurso às praias da Costa do Sol, coloco-me junto, deslumbrada, conhecendo e admirando cada prainha, quase sem fôlego com tanta beleza. As praias de Málaga, Marbella, Puerto Banús, Fuengirola, mais parecem lugares paradisíacos perdidos no mar Mediterrâneo. E o Palácio de Alhambra, só por fora já é encantador. Amei conhecer a Andaluzia através do teu olhar...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Sinta-se à vontade para comentar

Postagens mais visitadas deste blog

O Morro do Caracol

Foto: Rua Cabral, Barão de Ubá ao fundo e o Mato da Vitória à esquerda Arquivo Pessoal O povoamento de uma pequeníssima área do bairro Bela Vista em Porto Alegre, mais especificamente nas ruas Barão de Ubá que vai desde a rua Passo da Pátria até a Carlos Trein Filho e a rua Cabral, que começa na Ramiro Barcelos e termina na Barão de Ubá, está historicamente relacionado com a vinda de algumas famílias oriundas do município de Formigueiro, região central do Estado do Rio Grande do Sul.  O início dessa migração, provavelmente, ocorreu no final da década de 40, início dos anos 50, quando o bairro ainda não havia sido desmembrado de Petrópolis e aquele pequeno território era chamado popularmente Morro do Caracol. Talvez tenha sido alcunhado por esses mesmos migrantes ao depararem-se com aquele tipo de terreno. Quem vai saber! O conceito em Wikipedia de que o bairro Bela Vista é uma zona nobre da cidade, expressão usada para lugares onde vivem pessoas de alto poder aquisitivo, pode ser apli

Puxando memórias I

https://br.pinterest.com/pin/671177150688752068/ O apartamento Uma das mais nítidas lembranças da infância, eu não teria mais que cinco anos  é o quarto onde dormia. Lembro da cama junto à janela, a cama de meus pais e no outro extremo o berço de minha irmã mais nova, enquanto éramos só nós quatro. Durante a noite percebia a iluminação da rua entrando pelas frestas da veneziana fechada, enquanto escutava o ruído de algum carro zunindo no asfalto, passando longe no meio da madrugada. Até hoje quando ouço um barulho assim me ajuda a dormir. A sensação é reconfortante, assim como ouvir grilos ou sapos na noite quando se vive no interior.  Morávamos num apartamento de um pequeno sobrado de dois pavimentos com uma vizinhança muito amigável entre conhecidos e parentes.  O apartamento tinha dois quartos, uma sala pequena, banheiro, cozinha e um corredor. O piso era de parquet  de cor clara— termo francês usado no Brasil para designar peças de madeira acopladas. A cozinha tinha um ladrilho aci

Distopia verde-amarela

Foto: Sérgio Lima/AFP Crônica classificada, destacada e publicada pelo Prêmio Off Flip 2023 Dois de novembro de 2022, dia de sol pleno. Moro perto de um quartel. Saio para a caminhada matinal e noto inúmeros veículos estacionados na minha rua que não costuma ser muito movimentada. Vejo muitas pessoas vestidas de verde e amarelo ou enroladas em bandeiras do Brasil indo em direção ao prédio do Exército. Homens, mulheres e até crianças cheias de acessórios nas cores do país, um cenário meio carnavalesco, porém sem a alegria do samba. Pelo contrário, as expressões eram fechadas, cenhos franzidos.  Quando chego à esquina e me deparo com o inusitado, me pergunto em voz alta:    —Mas o que é isso? — um senhor sentado na entrada de seu prédio me ouve e faz um alerta: "A senhora não passe por ali, é perigoso!” Então entendi que o perigo era pós-eleitoral. Os vencidos tinham fechado a rua em frente ao quartel e pediam intervenção militar . Ou seria federal? Não havia muita coerência no uso