O Museu do Prado em Madrid foi inaugurado em 19 de novembro de 1819 é um dos mais emblemáticos museus de arte da Espanha. A maioria dos turistas que chegam a Madrid já têm agendada uma visita a esse importante ponto turístico que alberga em sua maioria trabalhos em pintura e escultura e cujo acervo está vinculado estreitamente com a cultura espanhola. Lá estão por exemplo, as obras-primas "As meninas" de Diego Velásquez, "Os Fusilamentos" de Goya, "A anunciação" de Fra Angelico, obras que eu costumava admirar somente em gravuras nas minhas enciclopédias do colégio e um dia, tive a felicidade de contemplar esses quadros "vivos". Eu digo "vivos" porque quando se observam obras de arte desse calibre, parece que tomam vida pela beleza, pelas cores, pelo conteúdo, pela antiguidade e pela história que contêm. O museu tem sua gestão a cargo da Secretaria de Estado de Cultura, portanto de administração estatal e é frequentado por uma média de 250.000 pessoas ao mês. Em vias de completar 200 anos, por lá já passaram milhares de pessoas do mundo inteiro e seguramente muitos brasileiros.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro foi fundado em 06 de junho de 1818 por D.João VI, tinha acabado de completar 200 anos, era um prédio tão majestoso quanto o Prado e abrigava 20 milhões de peças de valor incalculável e era o maior acervo da América Latina. Os dois museus são(eram) grandiosos em sua estrutura e no valor que abrigam (abrigavam). Digo era, porque todos sabem que o fogo tomou conta do Museu Nacional no último domingo, dia 02 de setembro e com ele foram perdidos milhares de registros históricos e o trabalho de muitos artistas e pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
Infelizmente, constatei que o número de visitantes no Rio de Janeiro ficava bastante aquém do Museu de Madrid já que por ali passavam escassas 5 a 10 mil pessoas por mês. O Brasil tem uma população 5 vezes maior que da Espanha. É certo que os visitantes do Prado são de toda a União Européia que tem 500 milhões de habitantes e também do mundo inteiro, mas a América do Sul tem 400 milhões, portanto a média de visitação do Rio de Janeiro poderia ter números bem maiores face a importância que o Museu detinha dentro da América Latina.
Eu não conhecia o Museu Nacional e acredito que para muitos cariocas o lugar fez parte de sua vida, mas também penso que muitos deles nunca tenham pisado ali. O que pode ser uma falha imensa no sistema educacional, porque seria atividade obrigatória de todas as escolas municipais e estaduais do Estado do Rio de Janeiro oportunizar que todas as crianças, ao menos uma vez na vida, tenham visitado o tão emblemático Museu ou fosse por ali de passeio com a família. Fora disso, havemos de convir que a vida cotidiana nos afasta muito de lugares como esses pelas mais variadas razões.
A respeito das responsabilidades cidadãs é muito próprio da incultura quando um povo subestima e/ou desvaloriza esses lugares e que pelo próprio descaso da população acabam não sendo contemplados com as subvenções necessárias para sua manutenção e aprimoramento. É próprio de sociedades sem cidadania não zelar pelo patrimônio público. O mesmo tratamento é dado no Brasil às vias públicas, às praças, aos monumentos, aos prédios antigos, ao patrimônio histórico, ao mobiliário público, até mesmo o transporte público é tratado assim. Uma vez eu li que o Brasil era campeão mundial em depredação de telefones públicos, aqueles de cabines que são tão famosos em Londres e lá permanecem intocados há décadas. Os museus, então, são praticamente invisíveis à boa parte da sociedade brasileira.
E a que vem esse desinteresse, aversão ou descaso ? Não sou especialista em comportamentos humanos e caracteres sociológicos, mas percebo variantes e, sem generalizar ou simplificar os problemas, creio que a resposta está baseada na deficiente estrutura da educação formal, na formação escolar básica e universitária focadas somente em produzir trabalhadores e não cidadãos.
Depois, creio que há um segundo componente que é a desigualdade social. Uma pessoa pobre das periferias ou uma pessoa que sequer tem um teto e vive nas ruas não se sente dono dos espaços públicos, porque está excluída da vida da cidade. O Rio de Janeiro tem favelas, bairros e comunidades onde não há a menor presença do Estado, cujas organizações que lidam com o tráfico de drogas é que comandam essas áreas. Então, cidadania é um bem que lhes é negado sistematicamente.
Outra questão que me parece importante citar é que no Brasil, exceto no Carnaval é absolutamente impossível encontrar ricos e pobres dividindo o mesmo local público compartilhando atividades culturais ou de ócio. A não ser que esses pobres sejam os garçons, atendentes de lojas, cabeleireiros, manicures, etc. Enquanto os ricos estão em atividades de ócio, os pobres serão os serventes de seu ócio. Alguém pode sugerir que há exagero nesse comentário, que o mundo gira assim, que se não fossem os ricos não existiria trabalho para os pobres, etc... A questão brasileira é que os ricos e os médios temem ser roubados, assassinados ou sequestrados quando há a presença de pobres, pois para os ricos, os pobres são criaturas potencialmente ladrões e bandidos. Lembram das reclamações quando a classe média baixa começou a frequentar os aeroportos? Coisa que até há algum tempo atrás era local destinado somente aos de "cima".Viajar de avião era um evento que exigia até roupa especial não é, Dona Danusa Leão ?
Outra questão que me parece importante citar é que no Brasil, exceto no Carnaval é absolutamente impossível encontrar ricos e pobres dividindo o mesmo local público compartilhando atividades culturais ou de ócio. A não ser que esses pobres sejam os garçons, atendentes de lojas, cabeleireiros, manicures, etc. Enquanto os ricos estão em atividades de ócio, os pobres serão os serventes de seu ócio. Alguém pode sugerir que há exagero nesse comentário, que o mundo gira assim, que se não fossem os ricos não existiria trabalho para os pobres, etc... A questão brasileira é que os ricos e os médios temem ser roubados, assassinados ou sequestrados quando há a presença de pobres, pois para os ricos, os pobres são criaturas potencialmente ladrões e bandidos. Lembram das reclamações quando a classe média baixa começou a frequentar os aeroportos? Coisa que até há algum tempo atrás era local destinado somente aos de "cima".Viajar de avião era um evento que exigia até roupa especial não é, Dona Danusa Leão ?
Mesmo os ricos brasileiros não perdem para os pobres no quesito cultura. Já tenho lido que era comum no Brasil do século XIX até meados do século XX, as famílias endinheiradas comprarem livros somente para enfeitar as bibliotecas, porque numa casa "elegante" era obrigatório ter uma biblioteca. E isso era o máximo de erudição que abarcavam.Ou seja, era de bom tom só aparentar cultura e o refinamento era medido não pela sensibilidade literária, mas pelo número de livros que sequer um dia iriam ler. Isso mostra o comportamento de aparências a que estamos submetidos desde há muito tempo e claro, a incultura sendo uma característica bastante comum entre ricos e pobres.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro era de todos nós e todos levaremos essa culpa atroz por termos permitido tamanha tragédia.
E assim seguimos acumulando museus de desimportâncias, irrelevâncias e descasos que nunca se inflamam e parece que só se fortalecem.
Essas tuas palavras soam fortes como badaladas que não querem calar...Imensa tristeza pela destruição do Museu Nacional no Rio de Janeiro. Mas, tristeza também pelo descaso com que são tratados todos os outros, de maior ou menor importância em nosso país.
ResponderExcluirAo apontares possíveis causas do desinteresse e descaso aos museus e centros culturais pela própria população brasileira, percebo que abordas com bastante clareza e serenidade a questão da educação, completamente desfocada de seus objetivos e desvinculada de nossa cultura, motivo pelo qual, crianças e jovens não cultivam hábitos saudáveis de visitar museus - desenvolvendo assim - o gostar e o valorizar nosso passado, nossa história...
Também, ao fazeres referência à desigualdade social que impregna nossas cidades, em que o rico e o pobre não convivem nos mesmos espaços, havendo o fator preconceito discriminante.
Ainda que, a sociedade e o governo se esmerem por transformar essa dura realidade, levaremos algum tempo para alcançarmos resultados favoráveis, em prol da educação e da cultura.