A fala mais contundente, cruel e desumana naquela inesquecível sessão da Câmara dos Deputados do dia 17 de abril de 2016, quando se votava o impeachment da Presidenta Dilma Roussef foi do atual Presidente da República. Aos gritos, ele pronunciava e dedicava seu voto a um coronel torturador da ditadura que, segundo ele era o terror da Presidenta. Ele fez questão de proferir tal torpe minidiscurso, quando poderia ter se limitado a dizer somente sim. E a cena correu o mundo para vergonha de muitos e deleite de outros tantos.
Foi nesse exato momento que a democracia e a boa política começaram a morrer dando lugar à suspeição, à descrença e à exasperação contra todos os temas contraditórios ou divergentes na sociedade e contra ações e políticas públicas civilizadas e civilizantes implementadas nos últimos anos, seja qual fosse a cor partidária que as tenha implementado.
Não é estranho que o mesmo desprezível discursante tenha sido eleito presidente dois anos e alguns meses mais tarde e tenha instalado no país o ódio como o maior vitorioso e a desinformação como seu suporte. Quem venceu, literalmente as eleições no Brasil em 2018 foi o ódio à política e aos políticos. Infelizmente, uma população desinformada, ignorante e alienada deixou-se tocar pela cólera ao sistema político como um todo, sem imaginar que a importante ação de votar e escolher seus representantes se voltaria contra ela em curtíssimo espaço de tempo.
Agora os ventos parecem mostrar a precisão do antigo dito bíblico que diz que todas as más ações feitas pelo homem se voltarão contra o próprio homem:
Quem com ferro fere, com ferro será ferido, que na verdade diz em Mateus 26:52, todos os que lançarem mão da espada, pela espada morrerão...
Então, fazendo a analogia, quem com impeachment fere, com impeachment poderá ser ferido.
Numa democracia é altamente traumatizante e trás impactos bastante negativos quando se derruba um representante popular eleito legitimamente, principalmente com motivação desprovida de sentido legal e sem provas de crime de responsabilidade. Agora o outro polo social pode estar prestes a sofrer na própria pele tudo que desejou, planejou, disseminou e engendrou contra os adversários em 2016, quando apoiou a destituição de uma pessoa honesta e democrata.
O impeachment que se avizinha, mais cedo ou mais tarde, talvez seja um mal natural pela comprovada incompetência e delírios do chefe do executivo que, diga-se de passagem, já cometeu mais crimes de responsabilidade em três meses de mandato do que sua antecessora foi acusada. Além disso, pode ser um mal necessário para que o outro lado experimente do mesmo remédio amargo neutralizando, quem sabe, a polarização já tão exacerbada pelas cada vez mais insanas e irresponsáveis declarações do presidente eleito em cujo caráter faltam sabedoria e sensibilidade para governar um país tão diverso de 200 milhões de habitantes.
Haverá, entretanto uma abismal diferença entre os dois casos de impeachment. No primeiro, houve uma defesa articulada, inteligente, fundamentada e aguerrida do mandato. No segundo caso, um covarde, incompetente e insano certamente fugirá do enfrentamento e assim uma vez na vida poderá mostrar um pouco de dignidade, não restando-lhe saída melhor e mais descomplicada a não ser a renúncia. O futuro sem ele é incerto e não isento de bastante confusão também. A Constituição Federal deve ser respeitada e seguida. Os embates ideológicos, as lutas e desafios hão de continuar, contudo o impedimento desse presidente e o consequente afastamento de seus familiares e gurus de governo podem ser a retomada de uma luta mais democrática e construtiva.
Comentários
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para comentar