Imagem : Pixabay |
Sempre que há uma grande movimentação popular para a defesa de direitos civis, trabalhistas e de garantias descritas na Constituição Federal, no caso agora o movimento estudantil e dos professores contra os cortes na Educação e a reforma da Previdência, alguns pouco cautelosos em seus juízos e outros pilantras de todo tipo tratam de desqualificar manifestações e manifestantes.
No seu juízo rasteiro, todos os estudantes universitários são vagabundos, comunistas, maconheiros, filhinhos de papai, organizadores de orgias nas universidades, nudistas, baderneiros, idiotas que não sabem fazer contas, militantes políticos pagos pelos partidos e toda sorte de generalizações.
Quando as mulheres saíram às ruas no Movimento#EleNão, trataram de demonizá-las, como é de praxe ao reacionarismo, pinçando comportamentos e fatos pontuais de uma ínfima minoria, se é que os fatos aconteceram, como se algumas dessas atitudes, digamos indecorosas, fizessem parte de todo o movimento. E vamos combinar que fazer xixi na rua é bastante aceito no mundo masculino, assim como tirar a roupa no carnaval e na praia. Indubitavelmente, as mulheres saíram às ruas numa grandiosa demonstração de civilidade, cidadania, harmonia, bom humor e coerência.
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, o MST, alvo ininterrupto de ataques desde sua fundação vem demandando constitucionalmente por terras improdutivas, convivendo com críticas, vivenciando embates, não raro com violência e mortes. A despeito de toda a anti-propaganda, o movimento hoje é responsável por grande parte da produção de alimentos orgânicos no país, além de grande exemplo de agricultura familiar e sustentabilidade ambiental.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, MTST é da mesma forma menosprezado o tempo inteiro quando de sua luta por moradia digna, também um direito garantido pela Constituição. Mas, segundo os desinformados, para dizer o mínimo, essas pessoas que fazem parte do movimento são vagabundos, miseráveis, drogados, prostitutas, gente de segunda classe que não merece vida digna. Segundo boa parte da sociedade brasileira, essas pessoas têm que continuar na rua, desde que invisíveis, porque se visíveis, atrapalham o passeio dos "cidadãos de bem" e seus animais de estimação. Em entrevista recente a um jornal local a secretária de Assistência Social de Porto Alegre, disse exatamente isso :
"Não vamos admitir uma cidade que esteja cheia de morador de rua. É um lugar público e as pessoas não podem levar seus pets, seus filhos. Não têm condições de caminhar nem em uma calçada, porque uma pessoa se acha no direito de morar na rua."
Esses gestores tem que decidir de uma vez por todas se os pobres têm direito a um teto ou têm que viver nas ruas? Além de depreciar seres humanos, os nobres gestores são incoerentes e desarticulados. Que tal um encontro entre a Segurança Pública, a Assistência Social, a Cidadania, a Saúde e a Economia ?
"Não vamos admitir uma cidade que esteja cheia de morador de rua. É um lugar público e as pessoas não podem levar seus pets, seus filhos. Não têm condições de caminhar nem em uma calçada, porque uma pessoa se acha no direito de morar na rua."
Esses gestores tem que decidir de uma vez por todas se os pobres têm direito a um teto ou têm que viver nas ruas? Além de depreciar seres humanos, os nobres gestores são incoerentes e desarticulados. Que tal um encontro entre a Segurança Pública, a Assistência Social, a Cidadania, a Saúde e a Economia ?
Os indígenas também são alvos, não tão constantes, por que são minorias, mas justamente por serem minorias mereciam mais respeito e atenção. Já ouvi muitos absurdos em relação aos índios, por exemplo: "se são índios o que vêm fazer nas cidades?", ou "os índios do nordeste todos têm motocicleta". Ou seja, a aculturação indígena dirigida pelos jesuítas, quando chegaram os brancos no Brasil não tinha problema nenhum, contanto que fosse para o índio trabalhar para o branco. O que é inadmissível para o "cidadão de bem" é índio estar nos lugares dos brancos, fazer e ter coisas de branco.
Os reacionários se aferram a moralismos baratos e miudezas de todo tipo para generalizar, desprestigiar e afrontar movimentos inteiros e assim depreciar e desacreditar a luta e os que lutam.
A falácia do comunismo infiltrado nas universidades não é novo. Na minha época de universitária apontavam os estudantes mais ativistas dizendo que eram pagos, não sei por quem, para que fossem deliberadamente reprovados e seguissem por anos propagando pelos diretórios acadêmicos um comunismo que só estava na cabeça dos doidos e dos mal-intencionados. Eu mesma nunca encontrei nenhum que tivesse me cooptado para alguma revolução a não ser a do conhecimento e das relações humanas.
Érico Veríssimo escreveu em Incidente em Antares,1971 : "Comunista é o pseudônimo que os conservadores, os conformistas e os saudosistas do fascismo inventaram para designar simplesmente todo o sujeito que clama e luta por justiça social."
Érico Veríssimo escreveu em Incidente em Antares,1971 : "Comunista é o pseudônimo que os conservadores, os conformistas e os saudosistas do fascismo inventaram para designar simplesmente todo o sujeito que clama e luta por justiça social."
O Brasil pós-ditadura e pós Constituição Federal de 1988, graças às lutas populares evoluiu ainda que lentamente para uma social democracia e não tem talento para um sistema fechado, anti-capitalista e tampouco apoia totalitarismos, onde o homem é objeto e cativo do estado.
O que os reacionários e idiotas sem pensamento crítico não suportam é a busca incessante pela diminuição das desigualdades e da pobreza que ainda são gritantes, o real cumprimento da Constituição, a inclusão, a liquidação das dívidas com o povo negro e índio, a valorização do trabalho e dos trabalhadores, a importância do conhecimento e da justiça social.
Não existe democracia se ela não for estendida a todos.
Por que temer a democracia?
Comentários
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para comentar