Era madrugada do dia 20 de julho de 1969 e meu pai nos acorda para assistir na televisão um evento ao vivo que ficaria para a história. Naquela época, o mundo vivia a previsão eufórica de um futuro tecnológico repleto de invenções e inovações, apostando como seu apogeu o século XXI e a chegada do então ainda distante, anos 2000. O Programa Apollo norte-americano havia começado alguns anos antes no que se denominaria de Corrida Espacial iniciada pela então União Soviética. Os Estados Unidos instigado a lutar pela supremacia tecnológica após a Segunda Guerra Mundial toma para si o desafio e o objetivo de explorar o espaço e chegar à lua, único satélite natural da Terra.¹ Assim, como sempre acirrando-se as disputas entre as potências mundiais.
A década de sessenta vivia o transe da conquista do espaço como um sinal de novos tempos e de novas conquistas da humanidade. As artes se impregnavam de temas galácticos como 2001, música da banda nacional Os Mutantes, 2001- Uma odisseia no espaço filme de Stanley Kubrick (1968), assim como Barbarella de Roger Vadim e O Planeta dos Macacos em sua primeira versão de 1968, entre tantos outros.
Astronautas, viagens e naves espaciais estavam no imaginário infantil e lembro de brincar com meus primos, colocando aqueles saquinhos de maçã na cabeça, imitando com o que tínhamos à mão os personagens do famoso seriado de televisão da época Perdidos no Espaço. Ali nos deliciávamos em ver as mais bizarras criaturas naquele planeta distante da Terra onde nossos heróis aportaram e viveram suas aventuras.
Não tenho muito claro na memória o que vi naquela noite de 20 de julho, pois o que lembro posso estar confundindo com as imagens que tomaram conta dos noticiários e das revistas posteriores ao evento. De qualquer modo, lembro da televisão Admiral em preto e branco na sala de estar, um narrador falando em outro idioma e as imagens eram de um ambiente escuro, com uma luz branca artificial e em câmera lenta. A tela mostrava um homem naquele traje branco espacial (EMU), de capacete e que descia cuidadosamente a escadinha* da nave, aos poucos vai tateando o solo lunar até pisar definitivamente num chão cinzento, arenoso e brilhante deixando aquela pisada que se tornaria famosa. O homem anda uns poucos metros como que aos pulos pela falta de gravidade e crava no solo a bandeira americana. O ambiente é claramente inóspito, desabitado, inabitável e escuro. Como naquela madrugada em Porto Alegre também era noite na lua, embora lá dias e noites sejam contados de maneira diferente.
Depois do acontecimento começamos a conviver com alguns termos como alunissagem, amerrissagem, módulo de comando, módulo lunar, nomes de lugares como Cabo Cañaveral, Mar da Tranquilidade e os nomes dos astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins tornaram-se nossos conhecidos do dia-a-dia tamanha a publicidade foi dada ao fato. As escolas exploraram o tema incessantemente, contrataram palestrantes e professores para explicar os feitos, exigiram trabalhos de pesquisa e até um museu itinerante passou pelas capitais brasileiras expondo pedras e minerais que foram trazidos de lá. As pedras ficavam em expositores de vidro como joias numa joalheria.
O Brasil vivia plena ditadura militar e o governo mirava-se no país norte-americano como um exemplo a ser seguido de capitalismo e desenvolvimento. Apesar de viver uma fase de relativo progresso, a maioria do país ainda era um exemplar terceiro-mundista atolado em desigualdades, miséria e atraso. Muitas pessoas seguramente sequer ouviram falar no acontecido naquele dia, salvo quem tinha rádio e televisão, ou ao menos pelas capas de jornais alguns dias depois.
Muitas pessoas pelo mundo afora também nunca acreditaram que homens tivessem feito essa proeza. Anos mais tarde criaram-se vários mitos e teorias da conspiração para desacreditar os fatos ou dar-lhes outro sentido.
Seguramente o Projeto Apollo deixou para a posteridade muita tecnologia, ciência e conhecimento que não ouso contestar aqui. O que me ponho a refletir sobre o legado dessas viagens espaciais é que realmente não foi encontrado nada na superfície lunar que fosse economicamente valioso para a vida na Terra ou que viabilizasse a sobrevivência humana por lá, pois obviamente o projeto era de caráter exploratório e demarcatório assim como o homem sempre agiu ao chegar à territórios distantes.
Entre acertos e desacertos, sucessos e fracassos o projeto foi abandonado totalizando seis missões com início em 1968 e finalizado com o Apollo 17 em 1972 por falta de verbas e pelo desinteresse da opinião pública.
Lá ficou uma placa colocada por Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na lua onde lê-se:
Aqui homens do planeta Terra pela primeira vez colocaram os pés na Lua, Julho de 1969, A.D. Viemos em paz por toda humanidade.
E Neil Armstrong é também o autor de uma das frases mais icônicas da história :
Esse é um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade.
Felizmente, constato que em 50 anos completos no dia de hoje não saltamos tanto, não colonizamos a lua, não extraímos nada de lá, não passamos a promover viagens espaciais de recreio, não utilizamos matéria-prima lunar para fabricar coisas na Terra. Ela continua lá intocada e a nos proporcionar belos espetáculos, iluminar nossas noites e influenciar as marés. E não posso ver missão mais bela.
Memorial da Apolo 11 |
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