Quando se planeja uma viagem nem tudo sai exatamente igual ao planejado, porque é normal que possam ocorrer alguns contratempos, atrasos, desencantos, condições climáticas extremas, cansaço, indisposição, etc. No entanto, relato aqui como podem ser divertidos e movimentados onze dias planejados em poucas semanas com pouquíssimas intercorrências e nenhum incidente. O roteiro previsto era fazer um percurso de carro saindo de Combarro, Comunidade de Galícia na Espanha e chegar à Comunidade Andaluza no sul do país distante quase mil quilômetros. Não era a primeira vez que eu visitava a Andaluzia, portanto já tinha alguma informação e algumas impressões sobre os lugares, mas cada viagem é única e nos reserva sempre novidades. Era agosto, auge do verão europeu e fazia dias ensolarados e muito quentes, clima típico daquela região para aquela época do ano. Éramos três viajantes, meu marido, uma prima e eu e tínhamos combinado não estar na estrada muitas horas por dia, para isso traçamos um roteiro que atravessava Portugal de norte a sul antes de entrar na região da Andaluzia, descansando cada noite em um lugar diferente. As cidades distavam mais ou menos três a quatro horas de viagem e completamos um círculo fazendo um total de mais ou menos dois mil quilômetros entre ida e volta. Tínhamos todos os hotéis e apartamentos reservados antecipadamente e não houve praticamente nenhum problema de chegada ou saída a não ser alguns pequenos desagrados com as acomodações.
Primeiro Dia, 12 de agosto:
Saindo de Combarro pela manhã iniciamos o roteiro português chegando à Braga para um pequeno passeio e almoço. Visitamos o Monte do Bom Jesus, o simpaticíssimo e secular centro histórico da cidade que foi parte da civilização romana e é patrimônio histórico da humanidade. Em outra oportunidade visitando Braga tive tempo de conhecer o museu da Igreja da Sé onde se encontra a cruz da primeira missa rezada no Brasil quando do "descobrimento".
Após o almoço fomos direto para Aveiro onde era nossa primeira parada para dormir. A Veneza Portuguesa estava lá sempre linda e movimentada. Tivemos um delicioso café no Gato Preto, cafeteria central e famosa pelos pastéis de nata portugueses. Andamos e fizemos algumas fotos ao longo do canal que transpassa a cidade contemplando os moliceiros, embarcação típica que percorre o canal para passeio dos turistas. Tivemos uma ótima recepção e bate-papo com nosso simpático anfitrião e mais à tardinha fomos à Praia da Costa Nova, aquela das casinhas listradas. Soprava um vento até bem frio ali, mas a vista deslumbra sempre.
Após o almoço fomos direto para Aveiro onde era nossa primeira parada para dormir. A Veneza Portuguesa estava lá sempre linda e movimentada. Tivemos um delicioso café no Gato Preto, cafeteria central e famosa pelos pastéis de nata portugueses. Andamos e fizemos algumas fotos ao longo do canal que transpassa a cidade contemplando os moliceiros, embarcação típica que percorre o canal para passeio dos turistas. Tivemos uma ótima recepção e bate-papo com nosso simpático anfitrião e mais à tardinha fomos à Praia da Costa Nova, aquela das casinhas listradas. Soprava um vento até bem frio ali, mas a vista deslumbra sempre.
Aveiro |
Segundo Dia, 13 de agosto:
Saímos pela manhã de Aveiro rumo à Coimbra para um passeio e parada para o almoço. Lá estava o Arco da Almedina, a Universidade milenar, o Rio Môndego, o centro histórico movimentado e quente. Coimbra é definitivamente um museu a céu aberto, um ambiente onde a cultura está no ar, pois abriga uma das universidades mais antigas da Europa, onde estudaram e professaram vários notáveis de muitas áreas do conhecimento. Apesar da beleza das antigas edificações o que sempre me chama mais a atenção em Coimbra é o pavimento milenar das ruas e das antigas escadarias que unem as partes alta e baixa da cidade. Fico imaginando quantos milhões de pessoas andaram por ali desde séculos, o que faziam, o que pensavam, o que sonhavam.
Depois do almoço o destino era Santarém que tem uma característica que já percebi em muitas cidades portuguesas. Ali o tempo parece não fazer nenhuma diferença. A vida parece fluir com uma tal tranquilidade e silencio como se as pessoas estivessem sempre em uma siesta, naquela hora de dormência, letargia, sem ruídos e muita calmaria. O Jardim das Portas do Sol é um bonito parque amuralhado no alto da cidade. De lá tem-se uma bela vista do Rio Tejo que passa ao lado da cidade. Pernoitamos em Santarém num amplo apartamento onde fomos recebidos com a amabilidade que é a característica dos portugueses.
Coimbra |
Terceiro Dia, 14 de agosto :
Saímos cedo de Santarém sempre em direção ao sul e chegamos a Albufeira. Região do Alentejo português, Albufeira é uma praia linda e larga de areia fina e muito branca com casarios construídos numa encosta. Ruas estreitas, janelas amarelas, paredes brancas e muitos resorts constituem a paisagem de Albufeira. Fazia um sol forte e a praia estava cheia. Tivemos um almoço típico português num pequeno e simpático restaurante recomendado por amigos. De Albufeira tocamos para Faroonde era o seguinte pernoite. Faro está localizado no extremo sul de Portugal ao lado de um grande estuário, onde pedaços de mar adentram o continente, formando rias um tanto semelhantes às Rias Baixas galegas. À tardinha, o passeio marítimo que contorna o centro histórico estava movimentado. Pela proximidade do aeroporto, a cada cinco minutos aviões chegavam e passavam rente ao passeio público no seu processo de aterrissagem. Era uma visão impressionante.
Albufeira |
Quarto dia, 15 de agosto :
Saímos de Faro logo cedo, depois de uma noite quente e sem ar condicionado. O apartamento era pequeno e os quartos localizavam-se no andar de cima com o acesso dificultado por uma escada estreita e íngreme. Foi nosso primeiro desconforto com uma acomodação que deixava a desejar no quesito acessibilidade. Passamos a fronteira novamente para o lado espanhol e chegamos à Sevilha pela hora do almoço e já estava horrivelmente quente. Tínhamos uma reserva num apartamento à beira do Rio Guadalquivir, bairro de Triana, onde o centro da cidade fica a apenas alguns poucos minutos a pé. O primeiro ato ao chegar ao apartamento depois do almoço foi ligar o ar-condicionado ao máximo, pois o mormaço da rua era insuportável. Essa hora já fazia perto dos 40 graus e até às seis da tarde não nos animamos a sair à rua. O apartamento em Sevilha foi uma das nossas melhores escolhas e descansamos ali confortavelmente instalados até o calor amainar. Andamos à tardinha pelo centro da cidade onde mesmo com o sol mais baixo a sensação térmica ainda era sufocante. Tive vontade de comprar um leque daqueles das dançarinas de flamenco. As carrocinhas típicas sevilhanas passavam cheias de turistas e me deu muita pena dos cavalos. O calor prejudicou muito nossa passada por Sevilha, repetindo o fato de minha primeira visita à cidade anos atrás. Sem dúvida, é um lugar para visitar em outras estações do ano.
Praia da Costa Nova, Aveiro |
Santarém |
Quinto dia, 16 de agosto :
Após passarmos a noite em Sevilha saímos cedo em direção à Cádiz. Foi uma rápida visita pelo centro antigo e uma pausa para o almoço. Vimos uma cidade grande e muito antiga, com um porto imenso e bastante importante, edificações impressionantes e turistas de várias partes do mundo. As ruas centrais, só para pedestres, são sinalizadas com placas antigas de pedra, coladas às esquinas, como um mosaico de desenhos coloridos e escritos feito à mão. Algumas pareciam obras de arte. Almoçamos num restaurante com as mesas na rua, assim como a maioria dos restaurantes dali. Não lembro o que pedi, mas aproveito para comentar que na Espanha a maioria dos restaurantes oferece o menu del dia, ou seja, estão listados em cartaz fora do estabelecimento as opções de primeiro prato e segundo prato. Geralmente há uma média de três opções de primeiro e segundo, mas dependendo do local pode haver até quatro ou cinco. No preço do almoço está incluído uma bebida, o café e em alguns até a sobremesa e o preço pode variar entre 12 a 15 euros em média por pessoa nos lugares mais econômicos. Porém esse formato só funciona para o horário de almoço que começa a partir de 13:30 da tarde e se estende até às 16 horas (os espanhóis são famosos por terem esse costume de almoçar à meia tarde) e exceto finais de semana, quando o serviço é todo a la carte.
Saímos de Cádiz depois do almoço rumo à Tarifa nossa próxima parada. Era uma sexta-feira e estaríamos em Tarifa todo o fim de semana. No caminho, tivemos a oportunidade de passar por um típico "pueblo blanco" andaluz chamado Vejer de la Frontera. A pequena cidade está encravada numa colina e as edificações são literalmente todas brancas. A visão impressiona a cada curva da subida da encosta.
Em Tarifa tínhamos uma reserva numa casa distante uns 5 km do centro da cidade perto de uma praia de surfistas. Era uma típica casa de praia rodeada por outras quatro ou cinco mais ou menos parecidas com um pátio interno comum, protegidas por muro alto e portão. A casa tinha cômodos pequenos e um pouco apertados. A cozinha deixava muito a desejar, pois era muito antiga e o fogão a gás não funcionava bem. Felizmente as camas eram confortáveis, havia ar condicionado e uma agradável varanda externa para compensar. O acesso desde a estrada principal até o portão de entrada foi a pior impressão que tivemos. Não havia um caminho demarcado e tivemos que ligar para o anfitrião para nos guiar e recolher a chave que estava num daqueles cadeados inteligentes manejados por código e pregado ao muro. O terreno era de chão arenoso e vegetação rasteira, sem sinalização e com muitos buracos. Nos surpreendeu muito que um lugar cheio de casas de veraneio ao redor se encontrasse assim, sem uma infraestrutura mínima. Notava-se que havia muita gente no lugar pelo número de carros e motorhomes que amanheciam estacionadas por todo o terreno.
Em Tarifa tínhamos uma reserva numa casa distante uns 5 km do centro da cidade perto de uma praia de surfistas. Era uma típica casa de praia rodeada por outras quatro ou cinco mais ou menos parecidas com um pátio interno comum, protegidas por muro alto e portão. A casa tinha cômodos pequenos e um pouco apertados. A cozinha deixava muito a desejar, pois era muito antiga e o fogão a gás não funcionava bem. Felizmente as camas eram confortáveis, havia ar condicionado e uma agradável varanda externa para compensar. O acesso desde a estrada principal até o portão de entrada foi a pior impressão que tivemos. Não havia um caminho demarcado e tivemos que ligar para o anfitrião para nos guiar e recolher a chave que estava num daqueles cadeados inteligentes manejados por código e pregado ao muro. O terreno era de chão arenoso e vegetação rasteira, sem sinalização e com muitos buracos. Nos surpreendeu muito que um lugar cheio de casas de veraneio ao redor se encontrasse assim, sem uma infraestrutura mínima. Notava-se que havia muita gente no lugar pelo número de carros e motorhomes que amanheciam estacionadas por todo o terreno.
Depois de instalados fomos visitar a cidade. Tarifa é um porto marítimo também importante do sul da Espanha e uma pequena cidade praiana bastante turística. A pequena cidade é conhecida mundialmente pelo kitesurf, esporte praticado ali por surfistas do mundo inteiro. Tínhamos um bilhete de barco saindo do Porto de Tarifa para o domingo. O barco nos levaria para um passeio de 8 horas à cidade de Tanger no Marrocos atravessando o Estreito de Gibraltar até o continente Africano. Mas esse passeio à Tanger contarei numa postagem em separado, porque salvo alguma pequena decepção, a mim foi o ponto mais alto da viagem.
Cádiz |
Vejer de la Frontera |
Sexto dia, 17 de agosto:
Era sábado e saímos de manhã para explorar os arredores e fomos a Algeciras para um encontro com amigos e almoço. No caminho a Algeciras paramos no Mirador del Estrecho de onde se pode ter uma linda vista do Estreito de Gibraltar e do Continente Africano. Na volta do almoço passamos na Praia de Getares por sugestão dos amigos e depois retornamos a Tarifa. A tarde ali estava movimentada, ouvíamos as pessoas falarem em vários idiomas e havia muito movimento nas pequenas ruas estreitas, nos restaurantes, lojas de souvenirs e nos cafés. O porto marítimo é bem estruturado, como um aeroporto em miniatura. Saem barcos de passageiros para vários destinos e a maioria são ferries que transportam além das pessoas também carros particulares e ônibus de turismo. Há controle de imigração feito pela polícia espanhola. Os ferries são bastante utilizados pela população marroquina que mora na Espanha. Chegam de carro à Tarifa, tomam o barco e seguem viagem pelo Marrocos ou para outro país africano.
Faro |
Albufeira |
Sétimo dia, 18 de agosto:
Era domingo e dia de nosso passeio a Tanger que contarei em texto separado.
Oitavo dia, 19 de agosto:
Já era segunda-feira e saímos cedo em direção a Marbella, na província de Málaga para almoço e passeio. Eu já conhecia Marbella, mas ela encanta sempre. Suas ruazinhas do centro histórico se caracterizam pelos vasinhos de flores coloridas pregados pelos muros e paredes brancas. A praia localizada na costa do Mar Mediterrâneo é uma visão impressionante de mar verde e calmo. Numerosas espreguiçadeiras e guarda-sóis de madeira e palha estão enfileirados milimetricamente na areia. Não há ruído, nem música, nem agitação de gente como nas praias brasileiras. Até o mar é silencioso. A visão é bonita, mas um tanto melancólica. Depois do almoço era hora de seguir para Torremolinos onde chegamos ao entardecer depois de optarmos por um caminho de trânsito bastante pesado pela orla marítima. Em Torremolinos fomos recepcionados por nosso anfitrião, um rapaz simpático de origem belga que nos apresentou um apartamento bastante confortável, mas um tanto longe da praia e do movimento dos veranistas. Fizemos um longo percurso a pé ao longo do passeio marítimo até chegar a Benalmádena,uma praia onde costumam frequentar muitos suíços, alemães e ingleses e pudemos observar um agitado porto marítimo com uma arquitetura bastante peculiar.
Marbella |
Marbella |
Nono dia, 20 de agosto:
Saímos cedo de Torremolinos deixando a Comunidade de Andaluzia e começando a fazer o caminho de volta. Mérida, nosso próximo destino era a escolhida para ser nossa passagem pela Comunidade de Extremadura. Pela hora do almoço ainda estávamos na estrada e tivemos a sorte de encontrar um restaurante na pequena Almendralejo, província de Badajoz distante uns trinta quilômetros de nosso destino. Ali comemos comida caseira e econômica em La Taverna de Rafael reconhecido com selo de qualidade pelo sítio de viagens Tripadvisor, como observamos depois. Mérida também estava bastante sufocada pelo calor que fazia. Nos hospedamos num hostal pequeno e confortável. Depois fomos dar uma volta pela cidade onde se localiza o emblemático Anfiteatro e Teatro Romano, patrimônios da humanidade e mais um sem fim de arcos, muralhas e ruínas romanas ao longo do trajeto pelo centro histórico. O centro de Mérida me pareceu um lugar de gente alegre e festiva.
Mérida |
Décimo dia, 21 de agosto:
Deixamos Mérida e seguimos para Salamanca, terceira cidade mais populosa da Comunidade de Castilla y Léon. A cidade é famosa por abrigar uma das universidades em atividade mais antigas do mundo, fundada em 1218 pelo rei Alfonso IX. Em Salamanca também fazia calor e as ruas, como sempre repletas de turistas. A cidade antiga é um conjunto de edifícios históricos declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Em Salamanca nos hospedamos num hotel bastante confortável e perto do centro. No almoço provei arroz negro con calamares y gambas (arroz cozido com a tinta de lula, lulas e uma espécie de camarão grande) que comi como se fosse o último almoço da vida. O prato é delicioso de qualquer maneira, para famintos ou não, com o único inconveniente que o arroz é al dente demais, bem mais que nas paellas que tenho experimentado e esse detalhe não sei se faz parte da receita ou da maneira de fazer daquele restaurante em especial.
Cádiz |
Salamanca |
Igreja da Vera Cruz de Carballiño |
Arroz Negro Foto: Google |
Décimo-primeiro dia, 22 de agosto:
Saímos de Salamanca pela manhã, pois já era hora do retorno à Galícia. Fizemos uma pausa em Puebla de Sanábria, lugar muito agradável para descanso de viajantes vindos do Sul ou da capital Madrid, pois se encontra no meio do caminho entre as comunidades. Antes de chegar à casa, almoçamos em Carballiño, província de Ourense onde comemos ótima comida caseira.
Fotos: Arquivo pessoal Juan Carlos Pérez
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