Lya Luft, escritora gaúcha escreveu dezenas de livros e traduziu outras dezenas de autores importantes no idioma alemão em que era formada. Eu li só Perdas e Ganhos da autora e confesso nem lembro mais do que se trata, mas tinha respeito por sua obra. Hoje me surpreendo—ainda tenho essa capacidade—com a declaração dessa senhora à Folha de São Paulo, dizendo-se arrependida de seu voto no atual presidente.
Na minha opinião, Lya Luft e Regina Duarte são da mesma natureza. Uma traduz tecnicamente livros que não lê, a outra interpreta tecnicamente personagens que não entende.
A miséria intelectual, o analfabetismo político e a irresponsabilidade cidadã estão escancaradas na classe média brasileira, cujos representantes demonstram isso assim naturalmente como se falassem de trivialidades. Bem, trivialidade e dissimulação nesse caso são especialidades nessas pessoas.
Dizer que estava "cansada" do PT por causa da "esculhambação e da corrupção" é próprio de quem se informa somente por canais como a Zero Hora e a RBS, representantes supremos do mofo jornalístico gaúcho, onde a escritora só tem o alcance das simplificações. Ela disse também que não conhecia o candidato. A verdade é que ele não se deixou conhecer muito mesmo, pois fugiu desesperadamente dos debates políticos para tapar seu despreparo e incapacidade intelectual. Mas acaso ela nunca ouviu as bravatas nojentas que este senhor desfechava na cara de seus entrevistadores? Acaso ela nunca ouviu o que ele disse para a Deputada gaúcha Maria do Rosário? Acaso ela nunca ouviu suas recorrentes apologias à tortura, ditadura e à homofobia? Acaso essa senhora assistiu a votação do impeachment em abril de 2017, aquela noite nefasta onde se desnudava a política fisiológica brasileira, cujo maior e mais despudorado representante foi o atual presidente? Bem, talvez ali a escritora já começava a ver alguma afinidade com suas próprias convicções.
Fiz um comentário parecido com esse no artigo da Folha e algumas pessoas me perguntaram onde estava meu perdão e empatia? Lembrei logo das mais de 50 mil mortes por Covid-19 a esta altura da pandemia, cujo presidente e seu governo não têm a dignidade de empatizar-se e solenemente ignoram todos os dias. Quanto a perdoar, depois de toda essa tragédia sanitária, social, econômica e da educação que o Brasil vive, seria me pedir o impossível. Ela, sim deveria pedir perdão aos brasileiros, assim como alguns já fizeram.
Antes essa senhora tivesse ficado quieta, seria mais digno o arrependimento sem a manifestação, mas algumas pessoas são incapazes de vislumbrar quando suas falas trazem a possibilidade de enterrar suas próprias biografias. É mais uma que vai rumo à perda de significância, seus livros para o despejo e o ganho de muitos ex-leitores.
E isso não é fazer patrulha ideológica, isso é patrulha civilizatória. Felizmente o Rio Grande do Sul tem Luiz Fernando e Érico, incomparáveis.
Li algumas obras de Lya Luft -faz muito tempo - e particularmente gostei porque ela trata de questões que envolvem a vida, nossos conflitos, nossos questionamentos, nossos enfrentamentos mais subjetivos, mas que nos fazem repensar muitas coisas. Quanto à sua coluna na Zero Hora, não opino pq não costumo apreciar...
ResponderExcluirEla tinha ou tem coluna na Veja há muitos anos pelo que li e segundo os críticos tem escrito textos de pura auto-ajuda. Como não leio Veja, não sabia quem tinha se tornado.
Excluir