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2025

 

Foto: Pinterest

Essa noite eu tive um sonho. 2025 tinha desistido de sua estreia e era 2008 de novo. Não entendi o porquê de voltar 17 anos atrás. Terá sido 2008 um ano cabalístico, com um significado oculto? Ou só um número aleatório? Foi bom ver algumas pessoas conhecidas bem mais jovens, saudáveis, outras vivas e alegres. Eu não me vi, pois protagonizava aquele delírio noturno, mas sentia que os 17 anos tinham passado em meu espírito, alojados à força, a despeito da rebeldia do 2025.

A humanidade se curva ao tempo, mas no meu sonho pela primeira vez o tempo se curvou à humanidade. Posso até imaginar, o clichê Bebê 2025 espiando o Senhor 2024 antes da meia-noite e vacilando se nascia ou não. Bem, anos não nascem como bebês, são imateriais, mas este talvez tivesse certa racionalidade humana(?), certo sentido de prudência, sensatez e clarividência. É isso, clarividência.

A despeito dos melhores augúrios para 2025, ele próprio não estava convencido. Os anos anteriores, principalmente de 2020 em diante, ano da pandemia, não foram propriamente alvissareiros, só para lembrar um passado recente. Acho que também estou me recusando a deixar passar o tempo usando termos que quase não se escutam mais. É a mania de ler os clássicos.

2025 assustou-se que em seu nome pudesse ficar registrado mais selvageria de humanos contra humanos, um capitalismo mais exacerbado, um fascismo desavergonhado, tentando derrubar jovens democracias. Tudo isso alinhado com o surgimento de lideranças políticas associadas ao reacionarismo cada vez mais popular e o fundamentalismo religioso emergindo das cinzas da idade das sombras. O tempo já andava aturdido com o crescimento das estatísticas do individualismo social, da depressão e da ansiedade controlando as mentes, com a iminência de desastres ambientais cada vez mais destruidores e da forte probabilidade de uma terceira guerra mundial. Por isso o compreensível vacilo.

Somente espíritos livres e desprendidos são capazes de ter esperança na humanidade. Até a esperança é usada como objeto de marketing para vender coisas nessa época do ano. Eu não tenho esperança. Não sou livre, nem desprendida, sou presa a toda sorte de medos, incertezas e o consumo às vezes supre minhas fragilidades. Pensando bem, não seria má ideia voltar a 2008. Eu poderia corrigir erros, evitar ou traçar outros caminhos, persistir e lutar ao invés de fugir. Mas tudo não passou de um sonho, óbvio.

2025 está aí e é preciso encarar, como encaramos todos os outros. O tempo não para, a cada batida desse teclado é um segundo a menos e a vida continua. De qualquer maneira há uma vida para viver! Para muitos nem isso resta ou restará.
Mesmo sem esperança, um pouco de sonho nos faz humanos e para mim é a única alavanca para continuar. Como diz Milton Nascimento: "É preciso ter sonho sempre"...pois, "quem trás no corpo essa marca possui uma estranha mania de ter fé na vida" .
Feliz Ano Novo!

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