"As administrações petistas ampliaram expressivamente as verbas do MEC, em particular com a criação de estabelecimentos e a contratação de professores e funcionários. A dispendiosa expansão, contudo, não se fez acompanhar das devidas preocupações com a qualidade do aprendizado.(Editorial da Folha de São Paulo, 29 de junho de 2020)
Esta observação vem em editorial da Folha de São Paulo cobrando um Ministério da Educação mais qualificado, idôneo, eficiente e programático depois da pasta passar mais de um ano no mais profundo desastre sob o comando de dois ministros absolutamente desqualificados, mais afeitos a destruir que construir e a impor suas incapacidades, inépcias e grosserias como política de Estado.
Nas últimas semanas surgiu um terceiro candidato ao cargo, mas que vergonhosamente ficou às voltas tentando provar que seu currículo não estava "adornado" com doutorados, pós doutorados e docências refutadas por todas as instituições citadas. Agora acaba de assumir um quarto ministro e ao que parece é mais do mesmo e o atraso, o reacionarismo e a inatividade seguirão.
Nesses tempos, infelizmente não podemos esperar nada auspicioso. Vemos as mesmas atitudes de sempre por parte de um governo que subestima o conhecimento e a ciência, que carece de experiência básica em administração pública, além do desapreço e desleixo com as instituições quanto à escolha de bons nomes na composição de seus quadros. O que prolifera são cabeças medíocres, autoritárias, reacionárias, ameaçadoras, delirantes e totalmente ignorantes do potencial da Educação e do ato de educar para o crescimento de um povo.
Voltando ao editorial da Folha, penso e escrevo como leiga no assunto. Percebo muitas deficiências na formação, contratação e processos de avaliação de professores e o quanto faltou aos governos anteriores revisar conteúdos programáticos e investir em qualidade. Concordo que se fazia necessário num primeiro momento a criação de estabelecimentos e contratação de pessoal para suprir a demanda da inclusão a que se propunham como relata o editorial. Por outro lado, creio que houve desatenção à qualificação profissional e devida revisão curricular, principalmente no ensino médio, mas que justamente são atribuições dos governos estaduais com posições político-ideológicas e prioridades as mais divergentes.
Além disso, com o intuito de suprir deficiências históricas no Ensino Superior não tenho dúvidas que o foco maior foi a criação de mais vagas em cursos e pólos de ensino públicos e alocação de privados através do PROUNI. Segundo o Ministério da Educação, de 2003 a 2010 houve um aumento de 45 para 59 as universidades federais. ¹
Os retrocessos aos quais o país está submetido na atualidade, o crescimento de ideias e de grupos com tendências fascistas, o encantamento de parte da população com militarismos e ditaduras, as crenças infundadas de grupos e pessoas manipuladas por extremismos, a influência de igrejas e grupos religiosos no poder me parece estar bastante vinculados a um insucesso histórico, para não falar em falência da Educação brasileira.
No mínimo foram muitas as omissões e lacunas que deveriam começar a ser repensadas se o país tivesse interesse em consolidar-se como uma democracia moderna e com cidadãos orgulhosos e cientes da verdadeira acepção da palavra, mas que muitos professores foram incapazes de aprender e obviamente não souberam ensinar.
Lembro que há pouco tempo se discutia a exclusão ou a não obrigatoriedade das matérias de Sociologia, Filosofia, Artes e Idiomas no currículo escolar e já antevia o descaso com temas que, segundo alguns, não agregava valor ao conhecimento de quem optaria por seguir carreiras em áreas biológicas ou tecnológicas. Esse viés ideológico a meu ver é simplista e rasteiro, porque nega aos jovens a pluralidade do conhecimento, a livre escolha e o exercício de suas habilidades e vocações.
Ao invés de excluir seria interessante incluir temas que dessem ao indivíduo condições para exercer plena cidadania o que incluiria conhecimentos básicos dos direitos e deveres do cidadão, do direito e da necessidade da participação popular na escolha das políticas de Estado, não só nas eleições escolhendo representantes. A busca pela transparência dos atos do governo deveria ser constante até chegarmos a um modelo ideal de Igualdade, Equidade, Justiça e Democracia se é que esses valores existem em plenitude.
Dentro deste mesmo tema seria interessante incluir conhecimentos básicos da Constituição Brasileira, como se organizam os poderes, em que valores democráticos e humanos está baseada e um conhecimento mínimo do funcionamento da máquina estatal. Com isso a população teria condições de garantir essa transparência através de uma permanente fiscalização, como incipientemente já existem mecanismos para isso, porém minimamente conhecidos e pouco exercidos.
O ensino da Língua Portuguesa me parece muito aquém da qualidade que tinha nas décadas de 70 e 80, incrivelmente anos de ditadura e pré-constituição de 88. Tenho informações que muitos professores cometem hoje os mais básicos erros de redação, ortografia e gramática, obrigando muitas vezes os pais a corrigirem os professores nos deveres dos filhos. Isso é inaceitável e desalentador, pois gera constrangimento entre as partes, possíveis represálias entre professor e aluno e insegurança no estudante. Seguramente existem ferramentas de avaliação de desempenho que as escolas podem lançar mão, detectar estas falhas e promover reciclagens nesse aspecto.
O ensino de História não poderia dar espaço a revisionismos baratos, à distorção de fatos, ao rebaixamento ou enaltecimento de vultos históricos ao bel-prazer de indivíduos ou tratar superficialmente acontecimentos relevantes do processo histórico mundial. Temos tido oportunidade de perceber essas situações pelos discursos de alguns crédulos de teorias facebookianas e de youtubers pouco estudiosos. Edmund Burke (1729-1797), pensador irlandês escreveu que "o povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la" é uma reflexão das mais verdadeiras.
As origens de nossa terra, língua e povo devem ser ensinadas e valorizadas assim como a diversidade étnica-cultural da humanidade. É inaceitável, no entanto que teorias etnocêntricas e preconceituosas façam do lugar e do modo como vivemos o melhor e o mais correto, portanto "os outros" e seus costumes e crenças devem ser combatidos, ridicularizados ou ignorados.
O incentivo e estímulo à leitura é parte integrante da vida escolar, mas provavelmente muitos professores apenas leem romances e folhetins. Não tenho nada contra romances, mas infelizmente alguns educadores em sua incapacidade de entender Paulo Freire, optam pela vergonha de desprestigiar e depreciar um dos maiores nomes da Educação Brasileira e do mundo. Da mesma forma, muitos sequer valorizam o Sistema Público de Educação o qual estão inseridos com a mesma intensidade com que são desvalorizados por governantes e pela sociedade. É uma mútua relação histórica. É nesse ponto que a Educação entra em falência, quando a mediocridade e as visões estreitas são permitidas.
E muito antes de falar numa política salarial condizente, plano de carreira e aperfeiçoamentos constantes e imprescindíveis para o exercício do educador, teríamos que ter em conta o talento natural dessas pessoas para a tarefa, desenvolvendo mecanismos de contratação voltados para além do conhecimento técnico, mas para a valorização e lapidação dessas vocações desde a Universidade até o exercício profissional.
Perseguir o exemplo da Finlândia e dos países nórdicos onde o professor está no topo das carreiras mais escolhidas, pois são os profissionais mais valorizados e respeitados tanto pela classe política como pela sociedade, seria pedir demais à sociedade brasileira destroçada pela ignorância e pelo desdém ao conhecimento e à Educação. Um dia, talvez...
Aos meus amigos professores peço perdão pelos achismos, simplificações e opiniões não fundamentadas ou infundadas, o que trago aqui são somente leituras e observações do cotidiano.
Acredito que no ponto que chegamos, a crítica à educação deva ser feita por todos os entes desta sociedade. Porém , acredito que nos anos em que o PT foi governo, o investimento e o crescimento em educação foi tanto, que assustou a classe média e rica desse pais, a ponto de apoiarem algo tão grotesco para o governo , como o atual.
ResponderExcluirLeciono desde 2013 , e confesso que a falta de conhecimento sobre Paulo Freire e a ditadura civil militar, por exemplo, eram / são defendida pelas minhas colegas e meus colegas mais velhos( 50 a 60 anos). Estes mesmo que reclamam da " diversidade"( leia-se negros e pobres,ah, e especiais) dentro da sala de aula. Para estes colegas, escola boa de lecionar era a que não tivesse negros, pobres, traficantes, homossexuais, especiais em sala de aula. " Não era lugar para esse tipo de gente. Nesse período inventivo aos grêmios estudantis, crescimento na UNE, etc...Programas para incentivo ao debate politico com as escolas nas câmaras!
No governo Tarso, no RS até incentivo a pesquisa no ensino Médio foi iniciado com os seminários integradores! Logo, acredito eu, que foi para brecar esse boom social que se deu o golpe e se impediu a candidatura de Lula . No mais devemos pensar o futuro da.educação. Pois com a pandemia, e este governo ditador poderemos sucumbir a total escuridão, como a humanidade viveu na Europa do séc V ao XV.
Interessante o termo que usaste "boom social", foi exatamente o que aconteceu nas administrações petistas. Concordo também que houve muita reação por parte da sociedade (inclusive professores) com a inserção social dos milhões que eram invisíveis até então. O que reforça minha tese de que faltou capacitação, sensibilização, incentivos, educação continuada e detecção dos renitentes, justamente esses que, sem dúvida, devem tiveram mais dificuldade para lidar com o boom que também aconteceu dentro das salas de aula.
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