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Antes de odiar alguém, pensa em quem te disse para odiá-lo.

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Imagem de Alex Yomare por Pixabay
                                                                 

     Tradução livre do vídeo de Marina Lobo em Spanish Revolution

Se há que reconhecer algo em nossos políticos hoje em dia é o bem que fazem uso do ódio. Mas por que triunfa este tipo de discurso? Existem dois elementos que influem hoje em dia,  a perda de influência de velhos caciques políticos e o auge do populismo. 

Numa sociedade quase que em permanente crise, onde a maioria dos contratos de trabalho são temporais, as pessoas mudam de emprego a toda hora e as fake news correm soltas, há um sentimento que nos ronda constantemente, a incerteza.

Quando não podes sequer planejar umas férias com teus amigos, porque não sabes o que será de ti no emprego ou porque terás que poupar teu salário, porque o local em que trabalhas, afinal fechará no final do verão, facilita-se aos mal-intencionados. E detrás de todo bom mal-intencionado está...Steve Bannon.

A ele devemos, por exemplo que um senhor como Donald Trump tenha chegado à Casa Branca. Ademais ele também assessorou em alguns momentos figuras como Bolsonaro e claro, a nosso querido Santi —Santiago Abascal, presidente de VOX, partido de extrema direita espanhol.

A chave está em colocar a culpa de todos os nossos males a alguém que não esteja entre os mais poderosos, claro, e que não tenha influência suficiente para desafiá-los, ou seja, as minorias.

São capazes de fazer com que acredites que se teu chefe não vai pagar tuas férias é por culpa dos imigrantes que colhem morangos por 1 euro a hora ou se não consegues encontrar uma namorada é por causa do coletiva LGBTI.

Maquiavel afirmava que tanto o ódio como o terror são dois instrumentos a serviço da política.

Assim, desvia-se o ódio aos outros.  E é aqui onde está o cerne da questão.. Tradicionalmente  dividiam-se os votantes em quatro tipos:

  • Habitantes da cidade x do campo
  • Religiosos x Laicos
  • Empresários x empregados
  • Centralizadores políticos x defensores dos periféricos

Logo veio a divisão entre esquerda e direita e em nossos tempos entram em jogo mais fatores como o feminismo, os direitos LGBTI, a ecologia e está cada vez mais complicado analisar onde estão os eleitores e convencer-lhes que votem em X partido. Para isso existe o populismo. Populismo se define como uma aversão às elites econômicas e intelectuais, constante denúncia à corrupção política e intenso apelo popular. Apesar da extrema direita com seus pomposos sobrenomes, usar esses mesmos discursos, o mais perto que chegaram de um trabalhador em sua vida foi no dia em que fizeram uma reforma na casa.

Se trata de agrupar pessoas com realidades e reivindicações diversas para gerar ódio contra o que eles chamam O Sistema. Quando é precisamente o mesmo sistema que sufoca a população e que eles mesmos defendem como o poder dos ricos que evadem divisas e sonegam impostos.

Para eles é fácil substituir a palavra sistema por outras como buenismo, Lobby LGTBI ou a mentira do câmbio climático. Pelo que se vê, pouco lhes falta para defender o terraplanismo.

Por exemplo, no Reino Unido os defensores do Brexit manejaram como argumento principal para sair da União Europeia, o controle da imigração, assegurando a falsa ideia tão disseminada de que eram os imigrantes que lhes tiravam os empregos.

Aqui Vox tem utilizado em várias ocasiões aos menores imigrantes que chegam desacompanhados como arma em potencial, criminalizando meninos e meninas, uma minoria especialmente vulnerável.

Ato xenófobo de Vox a um centro de menores estrangeiros: “Os espanhóis têm direito a caminhar com tranquilidade sem ser atacado por uma manada de “Menas”.( menores estrangeiros, não acompanhados)

Provavelmente muitos já ouviram falar que 69% das agressões sexuais cometidas em Manada, agressões sexuais cometidas na Festa de San Fermín em Pamplona, eram cometidas por estrangeiros. Esse dado, certamente é falso, mas tem um claro objetivo, desviar a atenção do debate feminista originado pelas violações de La Manada que não eram precisamente menas e sim violadores espanhóis e por certo, alguns membros de Vox.

As pessoas creem nesses dados, porque precisam de respostas, porque são questões bastante emocionais e viscerais e a extrema direita trata de que seja uma batalha do penúltimo contra o último:

"Tu, trabalhador estás desempregado, mas ao menos tens documentos, não és como uma porcaria de um estrangeiro que vem aqui tentar roubar teu trabalho." É o discurso usado.

A esse sem documento, esse Mena, esse subsahariano lhes aplicam pejorativos diversos que os desumanizam facilitando o sentimento de ódio.

Uma das últimas polêmicas foi o uso da bandeira do Orgulho Gay no escudo da Guarda Civil. Levam anos fazendo isso, até nos governos do Partido Popular, mas parece que isso não os incomodava até então. Agora sim, incomoda.

O próprio Steve Banon afirmava em uma entrevista: “Transformamos os republicanos num partido de trabalhadores”. Assegura, junto a Trump, um dos homens mais ricos e poderosos do mundo, já antes de ser presidente, defender os trabalhadores. No entanto, há dois anos o presidente aprovou um projeto de lei de 1,5 bilhões de dólares para reduzir os impostos das empresas e dos ricos entre os que figuram ele mesmo e seu gabinete.

Aqui Vox rechaçou aprovar impostos e aumentar as bolsas de estudo, votou contra a proibição de dispensas por doença e tem sido um dos maiores opositores do Projeto de Renda Básica Universal, enquanto milhares de seus votantes acabam sendo beneficiários de todos esses auxílios.

Espanhóis contra imigrantes, heteros contra o lobby gay, cidadãos de bem contra progressistas.

Se usa o ódio para enfrentar-se entre si os de baixo, enquanto os de cima riem e brindam a nossa saúde.

Antes de odiar alguém, pensa em quem te disse para odiá-lo.

                                                                                        

 https://www.facebook.com/SpanishRevolution/videos/1381875815535976

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