Quando saímos à rua e mesmo em frente ao computador encontramos facilmente todo tipo de comida, roupa, telefones celulares, computadores, sapatos, eletrodomésticos, carros, móveis etc. A publicidade nos assalta de maneira subliminar ou diretamente de muitas maneiras e acabamos comprando de tudo e muitas vezes por puro impulso. Me pergunto quanto necessitamos realmente de tudo o que compramos? Levamos em conta o volume de coisas que vão acabar sendo um dia descartadas num meio-ambiente já tão colapsado? Levamos em conta os benefícios ou malefícios que estamos causando à nossa saúde? Levamos em conta nossa capacidade financeira ou abusamos das compras no cartão de crédito? Que sentido, efetivamente temos dado à vida? A qualidade de vida está realmente associada ao nível de consumo?
Podemos exercitar um olhar crítico quando entramos num supermercado para comprar comida e fazer a seguinte pergunta: Onde está a “comida de verdade”? O que temos aqui que não seja muito processado, embalado, rotulado ou cheio de corantes, aromatizantes e edulcorantes?
Vemos grandes quantidade de alimentos processados empilhados nas prateleiras. Vemos também alimentos naturais, mas sendo vendidos picados, fracionados, embalados, congelados ou conservados segundo consta, com a finalidade de auxiliar pessoas com pouco tempo para cozinhar. Porém, nas pequenas fruteiras do bairro e mesmo na sessão de hortifrutigranjeiros do supermercado podem ser encontrados os mesmos alimentos com a vantagem de estarem frescos, recém-chegados dos produtores. Ao optarmos por esses últimos adquirimos produtos de temporada e muito provavelmente de pequenos produtores locais, impulsionando a economia de nossa região, com a vantagem de contribuirmos com a sustentabilidade ambiental evitando o acúmulo de papel, plástico e outros tipos de embalagens que levamos para casa todos os dias.
Certo é que vivendo numa economia de mercado, a indústria se permite produzir e vender qualquer coisa desde que atenda aos requisitos, regulamentos e a vigilância dos órgãos governamentais, mas se compramos comida mais “verdadeira” sem muito processo industrial e refinos como grãos, sementes, frutos secos, especiarias frescas, frutas, verduras, legumes, pescados, aves e carnes frescas gastamos menos e levaremos para casa comida mais saudável e barata. O único inconveniente é que precisamos ir mais vezes às compras, mas o resultado compensa.
O costume de consumir comida rápida e usar aplicativos de tele-entrega são realmente bastante tentadores pela variedade e pela facilidade. Bastam alguns cliques no celular e logo estão na nossa mesa. Mas é conveniente não abusar, pois geralmente esse tipo de alimento é farto em gorduras e condimentos podendo desencadear problemas circulatórios e cardíacos, além de obesidade se consumidos em excesso.
Quando compramos roupa, sapatos e acessórios podemos fazer pergunta semelhante— que tipo e quantas peças necessito para esta temporada? Nossos armários, cheios de roupa da moda e tendências que mudam a cada estação seguramente já não suportam tanto volume mesmo que tenhamos por hábito inventariar periodicamente, fazer doações ou vender para brechós o que também é uma boa prática. Além disso devemos levar em conta informações sobre quais redes de lojas são coniventes com a exploração de mão de obra e precariedade laboral em regiões mais pobres do planeta. A indústria da moda já foi alvo de muitas denúncias.
Enfim, creio que nosso padrão de consumo muitas vezes não está baseado numa necessidade absoluta e sim numa compulsão por marcas, embalagens, frascos, cores, estilos, imagens que nos invadem quando andamos num centro comercial, assistindo televisão ou pela publicidade da internet. Nossa necessidade de consumo está muito voltada para satisfazer uma sociedade de aparências que valoriza em demasia os bens materiais e nossa capacidade de ostentar e acumular coisas, reciclando e reaproveitando pouco.
Aqui não quero fazer apologia à sovinice ou à austeridade. Não precisamos deixar de comprar nosso café daquela marca suíça de toda a vida, os biscoitos das crianças, aquele sorvete delicioso, ter aquele celular bonito cheio de aplicativos, aquele perfume maravilhoso ou abrir mão da tecnologia e do conforto. Sei que é possível desfrutar da vida sem excessos, sem ostentações vazias, gastando menos e poupando mais.
Preciso deixar claro aqui também que reflito segundo a perspectiva do comportamento de classe média. As realidades sociais e econômicas no Brasil
são extremamente diversas e desiguais, não posso cometer a injustiça e a
desfaçatez de generalizar e incluir numa mesma situação pessoas que mal têm
para seu sustento e pedir a mesma racionalidade.
Os tempos andam estranhos, a pandemia tem gerado muita incerteza, perdas de vidas e desemprego. A insegurança econômica e sanitária tem tomado conta das nossas vidas. Os recursos naturais e materiais estão cada vez mais limitados. Já é tempo da sociedade e governantes começarem a preocupar-se mais além de produzir e consumir, também com minimizar a extrema desigualdade social que este modelo de capitalismo não resolveu e tampouco empenha-se em dar uma solução. Afinal que tipo de sociedade queremos? Sustentabilidade, igualdade, inclusão, responsabilidade e consciência social me parecem bons termos para começar.
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