Foto: Arquivo Pessoal |
Tristeza é um substantivo feminino, abstrato, estado de quem sente insatisfação, mal estar ou abatimento, por vezes sem razão aparente; melancolia; angústia; inquietação. O que provoca estado depressivo ou nostalgia; pena; mágoa; aflição; consternação e ...Saudade. Essa é a síntese semântica da tristeza segundo a consulta VOLP (Vocabulário da Língua Portuguesa). Apesar de meu convívio quase que diário com os dicionários, tenho tentado entender a tristeza além da semântica e dos estados psíquicos comandados por neurotransmissores bioquímicos. Empiricamente ouso aqui classificar os estados anímicos em graus de tristeza, de alegria ou nos seus extremos, o desespero e a euforia respectivamente. O que estaria no centro, no grau cinco, por exemplo numa escala de zero a dez? Tranquilidade, paz, indiferença, neutralidade? Em que posição temos estado a maioria das vezes nessa vida?
É certo que os extremos são temporários, tanto a euforia quanto o desespero logo se abrandam, porém sempre deixam fortes marcas na memória: a entrada na universidade, um presente, um amor, o nascimento dos filhos, um emprego novo, a casa própria, uma viagem. Por outro lado, uma doença grave, um fracasso profissional, uma catástrofe, a morte de alguém muito próximo, um acidente são exemplos destes estados. Perseguimos um utópico nível 10, percorrendo essa escala pela vida e se houvesse um aplicativo—deve haver— que salvasse num gráfico nossos estados anímicos diários nos veríamos, em média em que nível, em que número?
Os desenvolvedores desse aplicativo certamente se ocupariam de colocar uma caixinha no perfil dos usuários para assinalar com um x algumas características intrínsecas ao ser humano como otimismo, pessimismo, reconhecimento, etc. Ingratidão e revolta, embora sentimentos mais que humanos, são condições demasiado negativas para aferir felicidade, pois atualmente o parâmetro das redes sociais usa e abusa do quesito gratidão e no mundo virtual a felicidade impera.
Porém, não faço ideia de como esse aplicativo avaliaria a dissimulação dos usuários nesses quesitos. Sim, todos dissimulamos, pois parece inadequado não agradecer a todo momento pela dádiva da vida e a tristeza perturba o mundo da felicidade das redes e dos padrões. É a chamada positividade tóxica. Ainda assim, conheço gente realmente otimista que mesmo nas maiores decepções, perdas e dores, sua linha estaria lá acima do seis. E há os totalmente negativos que mesmo nas grandes alegrias e júbilos, eles nunca passariam do cinco—oh! dor...oh! vida...oh! azar. Um dia todos ainda haveremos de querer habitar no Metaverso e fugir da realidade. Mas isso é outro assunto.
Conjeturas à parte, o que pretendo aqui não é significar e explicar a tristeza, porque o sentimento é indefinível em palavras e é a dor, o desalento, os fracassos, a falta de perspectivas, as doenças e a pior de todas, a morte que são seus grandes motivadores. Certo é que muitas vezes nem sabemos a razão de estar tristes, assim é preciso também não confundir tristeza com preocupação ou com depressão—que é uma patologia— senão estaríamos permanentemente abaixo do nível 3, mesmo que uma grande tristeza possa evoluir para depressão e morte. Quem nunca ouvir falar de alguém que morreu de desgosto?
Mas afinal qual o sentido da tristeza? Para que serve esse sentimento tão humano e tão presente? Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa e Silva a tristeza é um estado de reflexão absolutamente importante na vida das pessoas. Entendo pelas palavras dela que seja um momento de parada, deixando que as lágrimas que correm de vez em quando lavem o espírito. Então, reflito a minha tristeza e me pergunto todos os dias o que devo aprender? Ela será capaz de algum dia remendar a alma, resgatar os pedaços que foram partidos, colar as partes quebradas e como um remédio (amargo) devolver-me a vida perdida(sei que não) e permitir reinventá-la mesmo carregando a mesma tristeza/saudade até o fim? E o mais importante, ela será capaz de responder a pergunta que me persegue...Por quê ou, melhor dizendo para quê?
Comentários
Postar um comentário
Sinta-se à vontade para comentar