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Dei para assistir séries antigas brasileiras da década de 90 ou do começo dos anos 2000 e, pasma, uso o adjetivo antigas, porque é o mais adequado tal é a velocidade que o tempo passou. Depois de ter estado os últimos sete anos fora do país, faço isso por pura nostalgia. Vejo ali os rostos dos atores e atrizes esbanjando beleza e juventude. Hoje muitos já morreram, atores mirins cresceram, outros tiveram suas vidas desgraçadas por doença ou acidentes, muitos estão ainda ativos fazendo papéis de avós, senhores e senhoras. A maquiagem já não esconde suas rugas e linhas de expressão. Algumas atrizes assumiram seus cabelos brancos. Muitos ícones já estão descansando em casa e nem ouvimos mais falar deles, apenas quando falecem e resgatam sua obra em reportagens de jornais e na televisão. E no último ano foram quase uma dezena deles.
Na mesma medida, não reconheço atores e músicos jovens brasileiros da ultima década. Todos me soam como nomes estranhos e sua arte não me é palatável. Estacionei na década de 90 em matéria de música, porém me sinto muito confortável, pois destaco que minha neta milenium conhece e aprecia sucessos e lendas da música até dos anos 60. Apenas sigo alguns novos atores, a maioria comediantes em suas redes sociais e pelos serviços de streaming. Eles praticam um humor mais inteligente, menos pueril do que passado, menos "Trapalhões"— salvo exceções. Embora vulgaridades ainda persistam, os sinais dos tempos e das mudanças de comportamentos e de paradigmas estão presentes. Isso é só um exemplo de tempo cronológico.
Há o tempo subjetivo. É o tempo dos acontecimentos, é o tempo impondo-se diante dos nossos olhos. Primeiro é a morte que sinaliza, quando pessoas próximas vão embora, quando nossos pais já não têm mais a plenitude da vida adulta, quando um deles já se foi, quando nossas referências da infância também se vão um a um. Em seguida, quando vemos nossos filhos adultos reproduzindo nossas mesmas angústias e desassossegos.
O tempo passa por nossos relacionamentos de amor e amizade. Esquecemos de alguns, assim como muitos nos esqueceram com facilidade. Outros ainda guardamos conosco, mesmo sabendo que a recíproca não seja verdadeira. Perdemos os mais importantes, mas ficaram alguns que não desistiram de nós—poucos— enquanto novas amizades podem ainda alicerçar-se. Os endereços por onde passamos nos deixam marcas. Carregamos um sem fim de arrependimentos, sem negar nossas convicções.
O tempo não está passando só nas telas, nos noticiários e nos calendários, está passando pelo nosso corpo. E a digitalização da vida aumentou sua velocidade. Já entendemos os mais velhos, sentimos falta do passado recente e do passado passado. Sentimos o tempo sinalizando, como que dizendo: eu existo, tome suas providências e aceite!
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