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Clarice Lispector escreveu num texto chamado "Declaração de Amor" (1968) a seguinte frase: "Todos nós que escrevemos, estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida".
A cada dia eu descubro essa necessidade de dar vida às milhares de tumbas interiores para não ficarem guardadas só nos pensamentos. E essa necessidade me chega pela dor, pela sensibilidade e empatia da maturidade. Também com seu sabor. O conflitos da juventude obstruem nosso interior. É um arrancar de dentro—sem ousar o talento de uma Lispector—o que, antes ininteligível ou obscuro, sai em palavras escritas que além de ganhar vida e forma, desoprime, alivia e por vezes conforta. Como uma droga, escrever é viciante.
Esse dar vida às palavras talvez seja o prenúncio da trilha do túnel desconhecido por onde todos vamos passar, então eu já vou me adiantando e revisando os fatos. Não pretendo reconhecimento ou a absolvição alheia. Eu me valorizo dentro de valores humanos pelos quais me guio e tento me absolver, mesmo com a carga de resoluções solitárias certas ou erradas que fui tomando ao longo da vida. Sempre senti meu espírito livre, mesmo sendo uma mulher. Ainda que não fui de todo isenta de repressão, críticas, julgamentos e remordimentos inerentes e atávicos ao meu gênero.
O pensamento vivo de hoje é para dizer que quem foi amado continua sendo amado. Reveses, entraves, deslealdade, abandono, escolhas, desilusões e perdas não revogam o amor, fazem parte do conjunto dos nossos mais profundos sentimentos. É uma coleção de nossa vida interna que nunca vai morrer, porque ficará escrita para sempre aqui ou noutro lugar a quem interessar possa. 💕
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