Pular para o conteúdo principal

A chave 24





Foto: Unplash


Imaginemos ter todas as chaves para poder abrir todas as portas que gostaríamos no ano que se aproxima. Mas antes disso é necessário fechar algumas que insistem em continuar abertas. A porta dos Desenganos seria renomeada para porta do Esquecimento. Dores, perdas, agonias e culpas ficariam ali encerradas e a chave jogada fora, mesmo conscientes que nunca esqueceremos absolutamente todo o conteúdo.

Não é difícil imaginar quais chaves gostaríamos de ter nas mãos para abrir as portas de 2024. Objetivos tangíveis como trabalho, dinheiro, viagens e bens intangíveis como saúde, conhecimento, amor, amizades, seriam os mais desejados. Estas palavras desgastadas, usadas em todas as mensagens de final de ano, afinal  são o que mais necessitamos para ser feliz e encontrar um sentido para a vida. Talvez encontrar o sentido já seja a própria felicidade.

Encontrar o amor, este bem tão antigo quanto o mundo, também é um dos mais necessários. O problema é que tem uma chave muito escondida.  Sempre há muitas dúvidas do que há por detrás desta porta. E a pior delas, é que o lugar esteja vazio. O tempo passou, o sentido do amor vem sendo revisto e o aprendizado talvez seja tardio. As ilusões se extraviaram pelo caminho e a solidão está de portas escancaradas aos apaixonados de mão única e aos solitários submetidos à força.

Felizmente existe uma chave no inconsciente. Para alguns é pequena, para outros é maior. É fácil de encontrar, está embutida no ser humano. É como um componente de fábrica. É uma força propulsora para seguir vivo. Por mais que suponhamos conduzir nossos rumos, os acontecimentos e mudanças são totalmente incontroláveis. Nada é permanente, tampouco a infelicidade e o universo, às vezes, tem vontade própria. O nome é autoexplicativo e a chave é a Esperança. Não pode haver nada ruim por detrás desta porta. Esperança é feita de fé, ilusão e sonho.  Não custa abrir e dar uma espiadinha. 

Feliz 2024! 🎉🎄🎅



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Morro do Caracol

Foto: Rua Cabral, Barão de Ubá ao fundo e o Mato da Vitória à esquerda Arquivo Pessoal O povoamento de uma pequeníssima área do bairro Bela Vista em Porto Alegre, mais especificamente nas ruas Barão de Ubá que vai desde a rua Passo da Pátria até a Carlos Trein Filho e a rua Cabral, que começa na Ramiro Barcelos e termina na Barão de Ubá, está historicamente relacionado com a vinda de algumas famílias oriundas do município de Formigueiro, região central do Estado do Rio Grande do Sul.  O início dessa migração, provavelmente, ocorreu no final da década de 40, início dos anos 50, quando o bairro ainda não havia sido desmembrado de Petrópolis e aquele pequeno território era chamado popularmente Morro do Caracol. Talvez tenha sido alcunhado por esses mesmos migrantes ao depararem-se com aquele tipo de terreno. Quem vai saber! O conceito em Wikipedia de que o bairro Bela Vista é uma zona nobre da cidade, expressão usada para lugares onde vivem pessoas de alto poder aquisitivo, pode ser apli

Puxando memórias I

https://br.pinterest.com/pin/671177150688752068/ O apartamento Uma das mais nítidas lembranças da infância, eu não teria mais que cinco anos  é o quarto onde dormia. Lembro da cama junto à janela, a cama de meus pais e no outro extremo o berço de minha irmã mais nova, enquanto éramos só nós quatro. Durante a noite percebia a iluminação da rua entrando pelas frestas da veneziana fechada, enquanto escutava o ruído de algum carro zunindo no asfalto, passando longe no meio da madrugada. Até hoje quando ouço um barulho assim me ajuda a dormir. A sensação é reconfortante, assim como ouvir grilos ou sapos na noite quando se vive no interior.  Morávamos num apartamento de um pequeno sobrado de dois pavimentos com uma vizinhança muito amigável entre conhecidos e parentes.  O apartamento tinha dois quartos, uma sala pequena, banheiro, cozinha e um corredor. O piso era de parquet  de cor clara— termo francês usado no Brasil para designar peças de madeira acopladas. A cozinha tinha um ladrilho aci

Distopia verde-amarela

Foto: Sérgio Lima/AFP Crônica classificada, destacada e publicada pelo Prêmio Off Flip 2023 Dois de novembro de 2022, dia de sol pleno. Moro perto de um quartel. Saio para a caminhada matinal e noto inúmeros veículos estacionados na minha rua que não costuma ser muito movimentada. Vejo muitas pessoas vestidas de verde e amarelo ou enroladas em bandeiras do Brasil indo em direção ao prédio do Exército. Homens, mulheres e até crianças cheias de acessórios nas cores do país, um cenário meio carnavalesco, porém sem a alegria do samba. Pelo contrário, as expressões eram fechadas, cenhos franzidos.  Quando chego à esquina e me deparo com o inusitado, me pergunto em voz alta:    —Mas o que é isso? — um senhor sentado na entrada de seu prédio me ouve e faz um alerta: "A senhora não passe por ali, é perigoso!” Então entendi que o perigo era pós-eleitoral. Os vencidos tinham fechado a rua em frente ao quartel e pediam intervenção militar . Ou seria federal? Não havia muita coerência no uso