Foto: Arquivo Pessoal |
Já parei de contar em quantas casas morei, passam de 20 e em
vários lugares. Lembro de quase todas. As que vivi com meus pais foram inúmeras.
Mudei de colégio várias vezes, os primeiros tempos sempre eram difíceis, mas
acabava me adaptando. Cresci numa metrópole e fiz o caminho inverso de meus
pais, quando fomos para o interior no começo da adolescência. Convivi com
costumes e culturas os mais diversos e percebia as peculiaridades de cada
região. Muitas não me agradavam. Minha trajetória de vida é feita a pedaços de
lugares e sempre me senti deslocada de onde vivia, talvez até hoje, fuera de
lugar.
Tenho três casas especiais. A primeira é a da infância, meu maior
arraigo, minha principal referência e que já detalhei num texto antigo no blog.
Morei até os 12 anos naquela esquina no meio do bairro Bela Vista, Porto
Alegre. A casa não existe mais há décadas, virou um prédio de apartamentos.
A segunda é a minha primeira casa própria, projetada detalhe a
detalhe com meu primeiro amor. O dia da mudança foi um dos mais felizes que
tenho lembrança, um sábado de dezembro de 1997. Eu ainda não tinha completado
40 anos. Havia quintal, árvores, plantamos flores e gramado, adotamos uma
mascote, peixes de aquário e havia churrascos de domingo. Foram quase 20 anos.
Quando alguém tem disposição e condição para projetar sua casa em algum lugar é
porque pensa adiante. Pensar longe para manter uma felicidade perto. Porém,
somos incapazes de prever as rupturas que a vida nos reserva e não nos resta
alternativa senão seguir adiante.
A terceira foi um apartamento à beira mar num dos lugares mais
incríveis do mundo e pelo curto período de 7 anos. Ali a felicidade se mesclou
com a dor e a perda. Já relatei aqui sobre esse lugar diversas vezes e não
quero mais revolver feridas. Um dia retornei às duas últimas a buscar pertences
e foi difícil recolher aqueles pedaços de vida.
Registro a memória dessas moradas onde ficaram rastros, digitais, ecos de sorrisos, esperas, choros e alegrias. Tudo ficará para sempre ali aderido. E o amor que ficou em cada uma e por cada um não cabe nas tantas caixas e bagagens que fui carregando de um lado para outro nessa errante vida.
Deixas transparecer uma saudade melancólica...mas junto, ares de uma felicidade intensa enquanto durou...
ResponderExcluir