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O Morro do Caracol

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A devastação

Quando calamidades coletivas acontecem como foi na pandemia de Covid-19 e agora na devastação provocada pelas enchentes do Rio Grande do Sul, nos primeiros dias eu travo, fico bloqueada pelo impacto e pelo temor de que possa vir algo ainda maior e pior, pois o evento está em andamento. Imagens chocantes chegam de todos os lados, os fatos vão se desencadeando, como dominós caindo—no caso casas, estradas, pontes, pessoas, animais, plantações. O medo e a angústia tomam conta. Ouvir o barulho da chuva durante a noite já não é reconfortante, é gatilho de terror.  Me recuso a ler comentários de rede social, só busco informação em canais oficiais de jornalismo. Sou leiga no assunto, por isso nessas horas não leio achismos, maledicências, calúnias, discursos de ódio e principalmente não quero saber que fake news andam espalhando. Eu travo mesmo, não consigo organizar as ideias para escrever alguma coisa sobre ou simplesmente desmentir absurdos. Os mal-intencionados não deixarão de ser mal-int

A lâmpada mágica

  Foto: Pinterest Em um distante povoado de algum lugar vivia um povo infeliz, mas em perfeita ordem. O governador não permitia sonhos, então eles iam dormir quando as lâmpadas das ruas se acendiam e levantavam quando elas se apagavam. Quando as lâmpadas estavam acesas não se via o céu e o povo que ali vivia nunca tinha visto o brilho das estrelas. Tudo era perfeito até que um dia uma das lâmpadas não funcionou como deveria e não acendeu. O governador logo pensou num ataque terrorista ou de opositores de seu governo. À princípio apenas poucas pessoas tiveram interesse em acercar-se até o poste apagado, e às escondidas puderam perceber um pequeno pedaço de céu estrelado e contaram aos amigos tão encantadora experiência. O governador solicitou urgente a reparação da lâmpada. Entretanto, o eletricista tentou encontrar onde estava o problema, mas como não obteve sucesso, resolveu trocar por outra lâmpada. Porém a lâmpada nova não funcionava bem, acendia e apagava quando queria a qualquer h

O desespero

Um dia ela começou a ser perseguida pelo desespero que durante vários momentos insistia em tomar conta de seu humor já muito combalido. Era preciso estar atenta, pois ele vinha a qualquer hora, assim como relatam pessoas com pânico. Talvez, similar ao pânico, o desespero é um pouco disso, uma desesperança, uma angústia, uma dor que não dói fisicamente, é uma dor do espírito.  Era o desespero do tempo passando, das lembranças, das perdas, das confusões, dos erros, das vidas deixadas para trás, dos amores perdidos, da solidão, das casas vazias, dos objetos espalhados e esquecidos nos cantos. Ela precisava fugir da desesperança e tentava reinventar tudo a sua volta. Na casa nova—já tinha parado de contar quantas— objetos significantes foram reunidos, não importava se fossem trastes velhos. Havia novos também para contrabalançar. Precisava ter por perto coisas que faziam parte de tempos que pareciam indefinidamente felizes. Ela nada sabia sobre a impermanência de tudo e todos. Nada sab

Aprenda a dizer adeus

Quando um câncer terminal afetar alguém querido, por favor não faça dele um herói, será exigir muito de uma pessoa com o emocional já tão exigido. Não tente reter a vida e a presença dele para seus interesses egoístas. Ninguém imagina o sofrimento físico/psicológico que cada doente carrega. É impossível continuar vivendo com um corpo tão fragilizado. Não deixe que ele fique preso à emoções que não são dele. Você está saudável e continuará vivo. Ele, não! O caminho dele foi traçado por sabe-se lá quem ou o quê. Ânimo e pensamento positivo não curam câncer. Honre, ame, aceite o que ele já aceitou e deixe ir. Ele escolherá a hora quando estiver liberto das emoções, do medo e das esperanças vãs de todos os que o rodeiam.  Uma vez pensei que tinha me despedido, mas só agora entendendo isso, eu me despeço verdadeiramente! Aprenda a dizer adeus!  Inspirado no filme "Enquanto Vivo" (De son vivant) de Emmanuelle Bercot

Idades

  Aos 5 anos eu perdi meu anel de pedra vermelha. Aos 10, eu queria ter 15. Aos 15 eu só tinha espinhas, cólica menstrual, cabelo rebelde e perguntas. Aos 20, eu estudei muito para entrar para a universidade. Minha cabeça e a parede do quarto estavam cheias de fórmulas matemáticas. Entrei, pois as fórmulas me ajudaram. Aos 25 eu queria trabalhar. Fui. Aos 30 eu procurava um amor e encontrei. Aos 40 nós queríamos ter uma casa. Tivemos. Aos 50, eu comecei a querer ter 15 de novo, porque só tinha domado o cabelo, a cabeça revirou. Aos 55 eu fui viajar e não voltei. Aos 60 eu perdi tudo. Agora aos 65, eu queria nascer de novo porque a vida é cheia de probabilidades e continua cheia de perguntas por perguntar e responder. Quem disse que experiências e memórias trazem felicidade? Felicidade são milhares de folhas em branco para preencher com uma vida inteira e se não for possível com vida real, pelo menos que seja com palavras, letras, frases, pontos e vírgulas, como isso aqui.

Solidão linguística

Mirador A Granxa, Raxó, Galicia: arquivo pessoal Solidão, português Soledad, espanhol. Solitude, francês Solitudine, italiano Loneliness, inglês Einsamkeit, alemão Odinochestvo, russo Gūdú, chinês. Kodoku japonês Wahda, árabe Monaxiá, grego Mbotu tupi-guarani Solitudinis, latim. B'didot, hebraico Ensamhet, sueco *Estado de quem está só, retirado do mundo ou de quem se sente desta forma mesmo estando rodeado por outras pessoas; isolamento. Etimologia (origem da palavra  solidão ). Do latim solitudo.inis. Era só esse o post...