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Mostrando postagens de agosto, 2020

Me chamo Ler, Leer, Lire, Leggere, Read

Leitora voraz desde que aprendi a juntar letras e sílabas, apenas venho alternando gêneros,  descobrindo autores e mudando a forma de ler. Minha infância foi marcada por duas grandes obras, além dos livros de textos escolares. A primeira foi a  Enciclopédia Delta Júnior , lançada em 1967 pela mesma editora responsável pela publicação em português do Delta Larousse e a segunda foi o  Mundo da Criança  também da Editora Delta. Meu pai comprou a Delta Júnior pensando em termos em casa uma fonte de consulta para trabalhos escolares.  A enciclopédia está bem guardada, tem doze volumes em capa vermelha, os verbetes se distribuem pelos volumes em ordem alfabética. As ilustrações são todas feitas com desenhos coloridos, não há fotos e guardo na memória muitos tópicos consultados quando era criança. Conheci "O Mundo da Criança" quando íamos de férias para a casa dos primos e era a minha distração. Era um conjunto de doze a quinze volumes, livros grandes, pesados e de capa marrom. Lem

O baixo Brasil das bruxas soltas

Não gosto de ouvir o termo bruxa dirigido às mulheres, nem para designar a aparência, tampouco para atacar seu caráter. É um termo misógino e antifeminista usado desde tempos imemoriais para calar, reprimir e aviltar seres pensantes e que destemidamente buscavam a igualdade entre os gêneros. Muitos milhões de vidas pereceram brutalmente assassinadas ou encarceradas pelo crime de não se submeterem, de buscar respeito e relevância mais além da finalidade reprodutora, sexual e de sujeição às necessidades do gênero masculino.  O arquétipo da bruxa está presente nos contos infanto-juvenis como a imagem da maldade, da inveja, da antiestética, da ambição. Expressam-se como seres dotados de alguma sabedoria, mas que o senso comum deixa claro que é uma sabedoria invariavelmente usada para o mal. Um dos exemplos que quebram esse paradigma da malignidade das bruxas é o filme Malévola, produzido pelos estúdios Walt Disney. Na Língua Portuguesa, a expressão a bruxa está solta é uma forma de diz

Consumo responsável e novas atitudes

  Quando saímos à rua e mesmo em frente ao computador encontramos facilmente todo tipo de comida, roupa, telefones celulares, computadores, sapatos, eletrodomésticos, carros, móveis etc. A publicidade nos assalta de maneira subliminar ou diretamente de muitas maneiras e acabamos comprando de tudo e muitas vezes por puro impulso. Me pergunto quanto necessitamos realmente de tudo o que compramos? Levamos em conta o volume de coisas que vão acabar sendo um dia descartadas num meio-ambiente já tão colapsado? Levamos em conta os benefícios ou malefícios que estamos causando à nossa saúde? Levamos em conta nossa capacidade financeira ou abusamos das compras no cartão de crédito? Que sentido, efetivamente temos dado à vida? A qualidade de vida está realmente associada ao nível de consumo ?   Podemos exercitar um olhar crítico quando entramos num supermercado para comprar comida e fazer a seguinte pergunta: Onde está a “comida de verdade”? O que temos aqui que não seja muito processado, em

Antes de odiar alguém, pensa em quem te disse para odiá-lo.

      Imagem de Alex Yomare por Pixabay                                                                         Tradução livre do vídeo de Marina Lobo em Spanish Revolution Se há que reconhecer algo em nossos políticos hoje em dia é o bem que fazem uso do ódio.  Mas por que triunfa este tipo de discurso? Existem dois elementos que influem hoje em dia,  a  perda de influência de velhos caciques políticos e o auge  do populismo.  Numa sociedade quase que em permanente crise, onde a maioria dos contratos de trabalho são temporais, as pessoas mudam de emprego a toda hora e as fake news correm soltas, há um sentimento que nos ronda constantemente, a incerteza . Quando não podes sequer planejar umas férias com teus amigos, porque não sabes o que será de ti no emprego ou porque terás que poupar teu salário, porque o local em que trabalhas, afinal fechará no final do verão, facilita-se aos mal-intencionados. E detrás de todo bom mal-intencionado está... Steve Bannon. A ele devemos, por e

Exercício da Fotografia

  Foto: Arquivo Pessoal Já estava morando na Espanha há um ano, quando conheci Ribadeo na Província de Lugo, à noroeste da Península, limite entre Galícia e Astúrias. A cidade é famosa por estar nas proximidades da Praia das Catedrais no Mar Cantábrico, uma paisagem incomum feita de altos arcos de rochas e formações de cavernas em uma praia que só se pode entrar com a maré baixa e depois de pedir autorização à prefeitura, pois a entrada está controlada. Meu companheiro tinha sido designado àquela cidade para ministrar um curso aos colegas da Vigilância Aduaneira e estaríamos ali por todo o dia seguinte. Chegamos na cidade quando escurecia e já fazia um pouco de frio de outono. O hotel era um prédio simpático de dois pavimentos e o estranho nome de O Cabazo . Os galegos têm o costume de nominar os lugares com um artigo definido na frente: A Corunha, A Estrada, O Grove, A Lanzada, O Xesteiro, etc. Os quartos ficavam no andar de cima separados por um largo corredor e a escadaria era lar

Anarquia sanitária e o embuste como política

Imagem : Pixabay Como farmacêutica de formação e atuando muitos anos em Saúde Pública e mais tarde na Gestão da Assistência Farmacêutica do Sistema Único, relutei em falar sobre isso. No entanto, precisava exteriorizar uma indignação, aliás, minha velha conhecida, quanto à forma como governos federais, gestores estaduais e municipais, parte da sociedade e também da imprensa em sua maioria leigos, tratam os medicamentos como produtos quaisquer, que poderiam, numa visão puramente mercadológica, estar à disposição nas prateleiras dos supermercados, em lojas de departamentos, vendidos pela internet, em feiras de rua ou nas mãos de vendedores ambulantes. É quase um mantra profissional informar que um medicamento jamais é desprovido de risco. Antes de ser usada para curar, toda substância é uma droga e dependendo da dose ou da forma de apresentação pode provocar desde pequenos desconfortos ao organismo, como graves prejuízos à saúde e também levar à morte. Uma planta, um alimento, uma bebid

Puxando memórias II - Decadence avec elegance

Depois do susto com um ônibus desgovernado entrar pátio adentro de nossa casa, deixando alguns danos materiais e certamente, insegurança e medo, mudamos definitivamente de casa, de cidade e de vida. Não sou capaz de avaliar o abalo emocional provocado, pois era uma criança, mas sem sombra de dúvida foi o fator de maior peso nesta decisão. Não havia possibilidade de reclamar com os órgãos de defesa do cidadão, porque não havia órgãos de defesa do cidadão, porque também não havia cidadania, tampouco democracia. A busca pelo direito à segurança para as ruas do bairro evidentemente era inviável, se não fosse, seria caro. Não havia como demandar a empresa de transportes pela imperícia e irresponsabilidade do motorista ou pela negligência do mecânico que não supervisionou os freios do veículo. Não havia maneira da vizinhança articular-se para solicitar a colocação de um simples semáforo no cruzamento e evitar futuros acidentes.  Naquele 1969, vigorava o AI-5  e o povo, além de estar amordaça

Diversidade Incômoda

Tempos atrás escrevi um texto com o título Sobre Malandros e Indolentes que falava sobre um comentário racista, desumano e perverso de um político brasileiro sobre negros e indígenas. Lá citei o exemplo de vida de minha trisavó, cuja história, mesmo sabendo quase nada, usei para repudiar veementemente a fala do político. Segundo relatos que eu ouvia da família, ela era uma mestiça filha de um negro com uma índia ou vice-versa. No texto eu dizia que provavelmente ela tinha sido escrava da família onde passou a viver, não se sabe em que circunstâncias, na fazenda de Manuel Veríssimo Simões Pires em São Sepé -RS com quem, depois dele enviuvar, passou a conviver como sua mulher.  Joanna Apolinário , minha trisavó por parte de mãe nasceu em junho de 1867 em Corrientes na Argentina. Em leituras posteriores descobri que a abolição da escravatura na Argentina foi promulgada em 1813, mas de fato só passou a vigorar em 1853, o que pode ser descartada a hipótese de ela ter nascido escrava, mas f

Breve Espaço de Tempo

Entre o final de 1969 até a metade de 1970 ainda permanecemos em Porto Alegre e moramos estes seis meses num conjunto habitacional para os lados da zona norte. Naquela época era literalmente onde acabava a área urbanizada da cidade. De onde vivíamos antes até este novo endereço são cerca de 10 km que se pode fazer em 40 minutos de ônibus ou 10 minutos de carro com as rotas que existem hoje, porém naquele tempo não havia muitas opções de percurso e havia pouca fluidez no trânsito. O conjunto habitacional era relativamente novo, consistia de vários blocos e tomava uma rua principal dos dois lados e várias outras transversais. Chamava-se Parque São Sebastião . O nosso apartamento era térreo com três quartos, sala de bom tamanho, piso de tacos de madeira clara e brilhosa. A cozinha ficava numa posição de fundo e era um tanto escura, assim como o banheiro. Era tudo novo e cheirava bem. Meu pai, depois que passou adiante o negócio do bar-armazém, passou a trabalhar com vendas e viajava para